A eterna disputa pelo céu

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Desde que o mundo é mundo, o homem sonha em voar. Desde que Santos Dumont descobriu o jeitinho, o céu foi tomado por um metal voador conhecido como avião, e o poderio das aves diante o espaço aéreo nunca mais foi o mesmo. A partir de então, aves e aviões travam uma batalha sem fim, muitas vezes fatal para um dos lados.

Inúmeros acidentes já aconteceram. Os próprios irmãos Wright, que queriam tanto aprender a voar baseado em aves, travaram a primeira grande batalha. Ocorreu quando um dos irmãos, que disputam a paternidade da aviação, Orwille Wright, disse ter enfrentado um bando e acabando por colidir com pelo menos um deles. Hoje, as aves que voam tranquila e inofensivamente pelos céus, perto de um avião se tornam um pesadelo.

Com o aumento do tráfego aéreo e consequentemente o aumento do registro de acidentes, os aeroportos investem cada vez mais em medidas de segurança e conservação do local para minimizar as situações potencialmente perigosas. Entretanto, muitas vezes os órgãos esbarram em dificuldades para encontrar soluções, devido às leis impostas pela legislação ambiental, principalmente quando a conclusão é o abate dos animais.

Com isso, cada vez mais, autoridades ambientais buscam soluções capazes de minimizar os riscos desses acidentes. Existem leis que tem como objetivo o controle da fauna nas imediações dos aeródromos para evitar os Bird Strikes, mas isso não é suficiente, sendo necessário haver uma solução prática e eficiente, que não dependa tanto de matar os pássaros e que nos mantenham seguros no céu.


Por que os birds amam aeroportos?

Grandes bandos de aves são perigosos para aeronaves, e infelizmente as aves apreciam o habitat em torno de muitos aeroportos movimentados. Geralmente localizados no límpido ambiente de grandes centros urbanos, eles podem contar com grandes extensões de terra sem serventia. Esse gênero de espaço acaba por se tornar muito atraentes para aves, à medida que seu habitat natural encolhe cada vez mais, devido a expansão do espaço urbano. Enquanto isso, as agitações dos aeroportos afastam grandes predadores, dando as aves uma sensação de segurança.

Muitos aeroportos estão localizados perto de pântanos ou lagoas de escoamento. Nesses casos a água vem a se tornar um amortecedor natural de ruídos, tornando-os espaços agradáveis para aves aquáticas migratórias, como o anum-branco, gaivotas, entre outras aves grandes.

No caso do Brasil, a questão se atenua de outra forma: os aterros sanitários entorno dos aeroportos. O Galeão por exemplo, tem como vizinho o maior aterro da America latina, o extinto mas ainda presente Aterro do Gramacho.

Os esgotos a céu aberto vindos das favelas vizinhas, fazem com que os resíduos sólidos depositados de forma inadequada, sejam um dos principais problemas. Apesar da legislação, a falta de planejamento urbano com uma pitadinha de interesse político, faz com que todo esse problema seja ignorado.


Como minimizar os ataques?

Independente do tamanho, as aves são perigosas para aeronaves. Os incidentes mais comuns são colisões com o nariz e cockpit, ou a ingestão pelos motores durante a decolagem. Vale lembrar que carne branca não faz parte da dieta dos aviões, causa indigestão e fazendo com que eles percam performance.

Uma batida entre uma aeronave tão grande com um ser tão pequeno parece bobagem, mas calcule comigo: Uma ave de massa corpórea de 2 kg, colidindo contra uma aeronave a 300 km/h! Ok, não precisa fazer nenhum cálculo rigoroso pra saber que pode se chegar a uma força de 7 toneladas e que isso pode machucar um pouquinho.

Devido a isso, muitos aeroportos tem seu próprio controle da vida selvagem local, a fim de refinar a evasão e minimizar qualquer interação com aeronaves e impacto sobre as aves. Técnicos utilizam radares para monitorar as aves e prever seu comportamento, gerando técnicas de controle cada vez mais eficazes.

Muitos utilizam falcões-robô, geradores de ruído, shows pirotécnicos, pterossauros adestrados, sabres de luz ou qualquer outra coisa. Graças a isso, a maioria das colisões não resultam em grandes danos para as aeronaves ou perigo para os passageiros.

Existem vários métodos para modificar o comportamento das aves e evitar que elas fiquem perto de um aeroporto, mas a maneira mais eficaz ainda é modificando o habitat das aves. Medidas como: eliminar a fonte de alimentos, tais como plantas que geram grãos, remoção de arvores no local para impedir nidificação e manter a grama curta, impedem sua sedimentação no local. Essas técnicas não prejudicam as aves, mas fazem com que elas evitem a região. Em casos extremos e como último recurso, elas poderão ser abatidas com devida autorização.

O fato é que, a medida que o habitat alternativo continue a encolher, e o poder público continue ignorando os lixões ilegais, os aeroportos serão um refúgio para um número cada vez maior de aves. Aeroportos e pilotos devem estar constantemente alertas nos céus, enquanto espera-se novas técnicas de controle serem desenvolvidas e o problemas com as aves, minimizados.

Na próxima vez que estiver voando e perceber a aproximação cautelosa de um bando de aves na sua direção, não pense ser uma linda ideia voar em ala. Inclusive, é melhor rever suas crenças.


Tayly Vieira