É fácil estudar no exterior?

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Um dos assuntos mais recorrentes quando falamos em formação aeronáutica é a formação no exterior. Não por acaso, muitos estudantes de aviação almejam obter suas carteiras nos Estados Unidos, perante a FAA, ou mesmo na Europa perante a EASA. Há alguns dias, publicamos também o CP Cast 58, onde nosso amigo Pedro Murtha nos contou sobre os detalhes da formação de piloto na Bolívia. O fato é que não se pode recriminá-los: a infraestrutura aeroportuária nesses locais, bem como as aeronaves e o nível da instrução ministrada são inegavelmente superiores aos nossos. Mesmo o nosso país tendo dimensões continentais, há muito o que melhorar em nossa aviação.

Muitas vezes incentivamos nossos leitores a buscarem essa formação, sempre que lhes seja possível, e não será agora que nos contradiremos. Se um estudante tem condições de buscar o melhor para a sua formação, seja ela ou não no campo aeronáutico, nada mais legítimo do que buscar o que seja melhor para si. Falando desse assunto, um de nossos leitores postou este comentário em nossa página, reproduzido pelo Sales em seu perfil no Facebook. E ver a sua repercussão me fez refletir sobre algo que me ocorreu compartilhar com vocês: será que compreendemos, em toda a sua extensão, o que significa buscar uma formação no exterior?

A princípio, pode parecer tudo muito simples: juntar algum dinheiro, fazer as malas e lançar-se numa emocionante experiência. Porém, viver fora de seu próprio país pode não ser algo tão simples assim. Em minha vida profissional, estive fora do Brasil por duas vezes, em oportunidades que duraram seis e três meses, respectivamente. E mesmo sendo períodos relativamente curtos, pude reunir algumas experiências que valem a pena compartilhar com quem pensa em morar no exterior, em busca de uma formação de maior qualidade, ou supostamente mais acessível.

O primeiro ponto a ser levado em conta quando passamos por essa experiência é que toda a nossa vida vai para a gaveta durante a nossa estada em outro país. E quando digo “toda a nossa vida”, isso significa muito mais coisas do que muitos podem imaginar. Amigos e familiares ficam TODOS para trás, a milhares de quilômetros de distância. Nosso contato com eles, muitas vezes diário e presencial, reduz-se ao que a Internet nos possibilita. Ausentamo-nos da vida deles, e eles da nossa. Acompanhar seu time do coração, ou conversar sobre ele com os colegas? Esqueça! Seu esporte favorito pode não ser popular em seu novo país, quem dirá então o time pelo qual você torce. E mesmo alguns dos nossos hábitos mais simples, como fazer amigos facilmente e reuni-los para um happy hour, pode não ser exatamente habitual em seu novo destino.

Sem amigos nem familiares, e sem conhecer pessoas, lugares, hábitos e cultura local, não nos resta muito a não ser iniciar uma nova vida praticamente do zero. E note que sequer citamos as barreiras da linguagem, supondo que você possua alguma fluência na língua do país para onde pretende ir. E ainda há outra coisa muito importante que fica para trás: seu networking. Se você perde seu emprego em seu país de origem, ainda pode contar com colegas que eventualmente lhe indiquem para uma nova oportunidade. Mas como recolocar-se sem pessoas a lhe indicar, em um mercado que desconhece até as instituições onde você estudou?

Outra coisa a se considerar é que, quando vemos as discrepâncias entre a nossa aviação e a do primeiro mundo, nosso primeiro ímpeto é o de virar as costas ao país onde vivemos. Porém, precisamos levar em conta que ninguém lutará pela melhoria da aviação brasileira, senão os próprios brasileiros. Lembremo-nos, por exemplo, de que mesmo os tão desejados Estados Unidos já estiveram em situação de falência, como o que lhes ocorreu na crise de 1929. E o comportamento predominante não foi o de abandonar o país, mas sim de reerguê-lo. Ninguém reergueu os Estados Unidos, senão os próprios americanos. Guardadas as proporções, não seria esse um exemplo a se considerar?

É importante frisar novamente que não pretendo desencorajar quem considera a formação no exterior, mas sim, convidar a uma reflexão que leve a uma escolha mais consciente. Pela nossa própria segurança e bem-estar, uma decisão desse porte não pode ser tomada da noite para o dia. E você? Está preparado para buscar sua formação em outro país, mesmo se eventualmente não conhecer sua cultura? Está disposto a enfrentar os mais inesperados contratempos por sua formação aeronáutica? Se sua resposta for “sim” em ambos os casos, nós do Canal Piloto seremos os primeiros a torcer pelo seu sucesso.

Por fim, gostaria de reenfatizar também o que disse anteriormente: ninguém lutará pela melhoria da aviação brasileira, senão os próprios brasileiros. Como disse certa vez John F. Kennedy ao seu povo, quando foi presidente da mais poderosa nação de nosso mundo, “não pergunte o que seu país pode fazer por você, mas sim, o que você pode fazer pelo seu país”. Lembremo-nos que um dos maiores motivos de orgulho de nosso país vem justamente da aviação, de nossa admirada Esquadrilha da Fumaça, que sempre nos exorta a sermos patriotas e perseverantes, diante de quaisquer que sejam as nossas adversidades. Que o vídeo institucional de nosso EDA, que segue logo abaixo, nos inspire a refletir sobre o assunto.

Abraços e boa semana!

Luiz Ribeirinho

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Luiz Cláudio Ribeirinho
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