Continuando o artigo da semana passada, hoje vou falar sobre promoção e crescimento profissional, processo seletivo, o que fazer quando voltar para o Brasil, e como uma companhia aérea vê o piloto que vai voar no exterior.
A possibilidade de crescimento é muito grande, e em curto espaço de tempo. Pode-se chegar a comandante em até 3 anos, como é o caso da FlyDubai. Já as oportunidades para trabalhar nas áreas administrativas são grandes, como me disse Schunck, co-piloto de A330 na Qatar: “o vice-presidente de operações da empresa entrou há sete anos como copiloto”.
Por outro lado, o que impede de muitos estarem voando lá fora é que o processo seletivo é extremamente exigente, como nos relatou um copiloto que opera no Oriente Médio:
“O processo seletivo foi composto por uma prova de 50 questões e uma hora de prazo. Nessa prova, caíram questões de PLA e também algumas de Human Performance, matéria com a qual não estamos acostumados no Brasil. Logo depois, tive uma entrevista técnica, onde são feitas perguntas sobre situações que você já passou na aviação, além de outras hipotéticas como o que você faria se uma determinada situação acontecesse em seu voo.
Vale lembrar que muita gente está reprovando nessa etapa devido ao nível de inglês. Aconselho a quem estiver se preparando fazer algumas aulas para chegar melhor preparado. Existem algumas escolas que possuem curso específico para pilotos em processo seletivo. No simulador são realizadas diversas manobras, como falha de motor, manobra TCAS, procedimentos de não precisão, e boa parte do simulador voando sem o auto-pilot.”
Algumas perguntas passam pela cabeça do piloto antes de tomar uma decisão dessa, como por exemplo: E se eu não me adaptar? O que vou fazer quando voltar ao Brasil?
Vejo que algumas empresas estão oferecendo aos pilotos a possibilidade de licença não remunerada, e com essa oportunidade, muitos comandantes e copilotos estão tomando essa decisão de voar no Oriente Médio e na China. Entretanto, os pilotos que já operam no exterior são unânimes em dizer que não pensam em retornar ao Brasil, e que para retornar dependeriam de existir vaga para entrar direto como comandante numa empresa brasileira.
Já os que estão na China não pretendem voltar para a linha aérea brasileira como pilotos. O objetivo da maioria acaba sendo ingressar na aviação executiva ou ir para outras áreas, pois grande parte já é comandante e o ingresso em uma companhia aérea nessa função é difícil. Sobre esse assunto conversei com o comandante João Carlos Medau, que nos relatou:
“Isso depende de ter vaga para entrar direto como comandante numa empresa brasileira, quando ele quiser voltar. Janelas de DEC (direct entry captain) são raras no Brasil. Hoje em dia, com a recessão que vivemos, as admissões e promoções praticamente pararam. Isso faz com que os copilotos fiquem “represados”, aguardando promoção. Então, quando a economia voltar a crescer e as empresas também, haverá um “pool” de copilotos aguardando promoções e que, naturalmente, ocuparão as vagas de comandante. Sendo assim, num horizonte de médio prazo, não vejo possibilidade de contratações DEC nas empresas brasileiras.”
Para finalizar, o cmte. João Carlos Medau, na função de piloto-chefe da Avianca, falou sobre o olhar da empresa aérea em relação ao piloto que vai para o exterior: “Eu vejo com naturalidade, uma vez que as propostas de emprego lá fora são muitas. Então, cada um deve avaliar o que é melhor para si e, quando acreditar que deve ir e que essa é a decisão acertada na vida, tem que ir”.
Eu penso que essa é uma decisão que deve ser analisada. No entanto, olhando para a situação do Brasil, caso haja uma boa adaptação da família acredito que ir para o Oriente Médio é uma boa alternativa, porque lá o piloto que ingressa na função de copiloto com certeza vai ter um crescimento para comandante, além do excelente salário e dos benefícios. Porém, para conseguir a aprovação no processo seletivo, bem como nos cheques e recheques, é preciso de muita dedicação aos estudos.
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