Além de questões técnicas, como algumas das citadas nos textos anteriores em que tratamos desse tema (veja Parte 1 e Parte 2), há ainda dois tipos de erros comuns que têm suas origens na parte comportamental, e é disso que trataremos hoje. Vejamos se você já se viu em uma dessas situações, e concorda que são erros que atrapalham nosso aprendizado e evolução. Mais uma vez, esses erros elencados, embora sejam direcionados àqueles que estão iniciando, podem tranquilamente ser aplicáveis na nossa vida, nas mais diversas áreas.
Mas antes, ainda cabe um disclaimer de minha parte: esse tipo de texto deve ser encarado como uma conversa sem grandes compromissos, algo como um papo de hangar, uma vez que não possuo prerrogativas intelectuais para falar de comportamento humano ou melhores práticas de aprendizagem. Não sou psicólogo nem mesmo um pedagogo, apenas passo aqui experiências pelas quais paguei um preço alto, e creio que compartilhar é sempre o melhor a se fazer para que outros possam evitar os erros que já cometi. Nada de pano preto!
“Entendi sim, instrutor” – Quando não compreendeu realmente
Sejamos realistas: a hora de voo não é nada barata, muito pelo contrário. Dessa forma, estamos pagando não só pelo combustível ou para ter uma aeronave à disposição por uma hora, mas está incluso nessa hora um item de extremo valor, que é o profissional de instrução de voo – um piloto como você, mas que possui mais experiência e, na pior das hipóteses, é quem não permite que você cometa um erro fatal. Esse piloto à sua direita (ou atrás de você) está ali pra te ensinar, te dar dicas e te ajudar a evoluir – antes, durante e após o voo. Isso implica entrega de grande carga de conhecimento, e percepções que muitas vezes somente são notadas por quem está monitorando o voo.
Dessa forma, quando esse profissional te fornece uma dica ou te orienta com uma explicação que pode envolver conceitos de física, aparentemente muito abstratos na teoria de voo, você tem a obrigação de entender. E se não ficar claro, não caia na besteira de ficar com vergonha em admitir que não ficou claro: fale abertamente o que não entendeu. Além de ser importante para sua evolução, você não perderá mais “X” minutos fazendo a mesma manobra no próximo voo, repassando o que você já poderia ter compreendido – o que, em última análise, significa dinheiro perdido. Esse treinamento de se comunicar com instrutor e assumir não ter compreendido, ou solicitar mais informações, te ajudará ainda a treinar o seu CRM (crew resource management), que nada mais é do que se comunicar de forma clara para que a tripulação esteja sempre ciente do que está acontecendo, e do que irá acontecer a cada etapa do voo.
Falta de humildade
Na esteira do ponto anterior, há ainda essa outra “pane” que impacta no aprendizado de alguns pilotos alunos. Ter humildade é algo grande. É uma qualidade muito apreciada na aviação, e a ausência dela chama muito atenção nesse meio. No nosso caso, o da instrução, algo que muitas vezes pode ocorrer é nos depararmos com um INVA com menos idade que a nossa, ou ainda, um que por algum motivo entendemos como inexperiente demais pra nos dar instrução. Esse preconceito já começa a minar seu voo antes mesmo de chegar no aeroclube.
Precisamos ter a mente aberta e saber aproveitar a companhia de cada instrutor, tirando o máximo de cada um, fazendo valer nosso investimento. Pare e pense se faz sentido ter alguma reserva quanto à qualidade da instrução baseando-se apenas em indicadores como idade ou experiência na aviação. Certamente não faz sentido, visto que, se você é um piloto aluno, é facilmente compreensível que um Instrutor de Voo saiba, sim, mais do que você, e tenha algo a passar. E caso esse INVA não seja a pessoa mais fácil de lidar, aproveite também para treinar sua paciência e sua humildade em aceitar opiniões contrárias às suas, pois esse tipo de situação acontecerá na sua vida como piloto profissional. Nem toda tripulação é formada por melhores amigos: sempre haverá aqueles com quem você não se identifica muito, mas você terá que voar com eles. Então, aproveite e treine também sob essa adversidade.
“A good pilot is always learning”
O mesmo serve para quando você recebe uma crítica de uma manobra que, pelo seu julgamento, foi muito boa. Saiba entender o motivo da crítica: tenha a humildade de reconhecer eventuais erros, e tenha em mente que sempre é possível melhorar. Não importa de que tipo de aviação (ou segmento) você participe, sempre há pessoas para nos ajudarem a evoluir.
Receber tais dicas só depende da nossa humildade em reconhecermos que não somos perfeitos.
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