Uma das características da aviação de instrução no Brasil é o fato de você voar com dezenas de instrutores, durante sua formação.
Vendo isso, iremos reunir a seguir os cinco tipos mais comuns que você pode esperar encontrar, do melhor ao não-tão-melhor profissional.
Instrutor Gente Boa
“Já voou com fulano? Ele é super gente boa” – Daí o nome dessa categoria.
Esse é o gênero de instrutor com o qual é sempre um prazer voar, pois ele não apenas faz o que é de sua obrigação, mas também se preocupa em lhe deixar tranquilo durante a instrução de voo, que por vezes é estressante.
Não importa se você cometeu um erro ou está tendo dificuldades: ele sempre sabe encontrar o modo e as palavras certas para lhe abordar sobre a falha e a correção.
Deste modo, o aprendizado flui tão naturalmente que você se esquece de que está voando com um superior, e sente como se estivesse voando com um grande amigo, aprendendo no mesmo ritmo que ele.
Quando um instrutor como esse livra o cargo para ir rumo ao táxi aéreo ou linha aérea, ele desperta um conflito de emoções. Por um lado você fica feliz em ver alguém tão merecedor evoluir, mas ao mesmo tempo, fica triste em saber que não poderá voar com ele novamente… Ao menos por enquanto.
Instrutor Técnico
Apesar dessa variante estar abaixo, não é esse tipo de instrutor que faz a menos, mas sim, o instrutor citado anteriormente que faz a mais.
O papel fundamental do instrutor de voo é dar instrução. Portanto, temos de partir do princípio de que fazer bem o seu trabalho é o essencial, e que qualquer coisa a mais do que isso é um adicional.
Esse gênero de instrutor é aquele que, apesar de não se preocupar em estabelecer uma relação pessoal com o aluno, realiza o seu trabalho de modo exemplar, e portanto, tecnicamente falando, é tão eficiente quanto o gênero de instrutor citado acima.
Você não o irá considerar seu melhor amigo, mas irá sair do voo sabendo que conheceu um grande professor.
Instrutor Cobrador
Nos dois gêneros de instrutores acima, abordamos as funções essenciais e adicionais do profissional. A partir de agora, iremos partir da escala média para baixo, e mostrar como esses outros gêneros podem afetar o aproveitamento da instrução.
O instrutor cobrador é aquele que, como o próprio nome sugere, sabe apenas cobrar o aluno. Naturalmente, isso faz parte da instrução, porém, uma vez que o instrutor não saiba mediar a cobrança paralelamente com elogios e incentivos, ele acaba influenciando negativamente o aluno. Isso é agravado quando as emoções fazem a paciência diminuir e os palavrões surgirem.
É como se você, durante o ensino fundamental, chegasse em casa e apresentasse para seu pai uma redação que recebeu nota 10. Porém, ao ver o texto, ele, sem nenhum comentário anterior, fica alterado e parte diretamente para criticar sua letra e escolha de tema. Frustrante, não?
Desse modo, até mesmo o melhor dos alunos pode ter sua auto-estima, e paralelamente, seu aproveitamento prejudicados, vendo que ele sabe onde está errando, mas não como está evoluindo.
Instrutor “Eu só trabalho aqui”
No filme “Mogli: O Menino Lobo” há uma música tema que possui o verso “Somente o necessário. O extraordinário é demais”, visando que o personagem faça o mínimo possível em sua rotina diária, sem preocupações em realizar nada acima do que é esperado.
Dentre os instrutores também há um gênero semelhante. Nesse caso, é aquele que tem iniciativa de explicar ou corrigir o aluno apenas quando ele se depara com uma pergunta ou erro grave, mesmo na fase inicial de aprendizado.
Normalmente um instrutor procura dar dicas e conselhos sempre que pertinentes, vendo que o aluno não está ali apenas para aprender o básico, mas também para refinar e evoluir o que já sabe.
Com isso, a inatividade de um instrutor durante 90% de uma aula de voo, com um aluno de apenas 10 horas de experiência, está longe de ser o ideal.
Instrutor “Não vejo a hora de sair”
É sabido que muitos instrutores ingressam nessa profissão para utilizá-la de escada para uma área melhor, ou seja, para acumular experiência em horas. Isso é comum, e não há nada de errado com isso.
O problema ocorre quando o instrutor não se preocupa em prestar um bom serviço aos alunos com os quais voa, vendo que aquilo é apenas temporário na mente dele. Isso se agrava quando o indivíduo também não se esforça em esconder sua insatisfação com o atual trabalho, não economizando reclamações sobre a administração, colegas de trabalho, e outros alunos.
Esse é um profissional que, quando livra o quadro de instrutores rumo a outra empresa, gera felicidade para ambas as partes. Mesmo assim, ele ainda deixa um aprendizado para seus alunos, tendo demonstrado como um instrutor de voo não deve se comportar.
O papel do instrutor é (apenas) dar instrução?
Citando a experiência que tive durante minha formação, posso afirmar que a maioria dos instrutores com os quais voei se dividem entre as duas primeiras categorias citadas na lista, o que é ótimo.
Ocasionalmente, eu também voei com outros que caracterizavam as três últimas variantes, mas felizmente eles não somavam 10% dos instrutores com os quais voei.
Quando se trata dos maus instrutores, já ouvi a máxima de “O papel do instrutor é dar instrução, e ponto”, no sentido de que ele não precisa obrigatoriamente ser paciente, educado, ou dar elogios. Isso pode até ter sua porcentagem de verdade, entretanto, em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, não creio que essa filosofia sobreviva por muito tempo.
Em suma, utilize todos os gêneros de instrutores como inspiração. Procure replicar o comportamento daqueles que você admira, e evitar se tornar aqueles que dificultaram seu aprendizado.
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