Há alguns anos atrás, tive a oportunidade de estar a bordo de um voo entre Paris e Lisboa. Nada muito glamouroso: apenas uma volta ao trabalho após um feriado prolongado, em classe econômica, numa região onde a economia torna tais voos tão corriqueiros quanto uma viagem de ônibus em nosso país. Uma coisa chamou a minha atenção no momento de embarcar naquele voo: uma mulher à porta do cockpit, com quatro faixas douradas sobre os ombros.
Foi uma novidade para quem estava acostumado a presenciar a predominância masculina em cockpits. E logo aquela novidade se mostrou uma grata surpresa. Ainda na taxiway que nos levaria à pista, a Comandante teve a sensibilidade de frear o imenso A320 para permitir a travessia de um pequeno animal silvestre. Em seguida, efetuou uma decolagem imediata impecável, e comandou o voo com tranquilidade. E chegando ao nosso destino, ouvimos os reversores serem acionados sem sentirmos o toque na pista. Foi, de longe, o pouso mais macio do qual já estive a bordo!
São experiências como esta que mostram que a aviação precisa de mais presença feminina, inclusive – e principalmente! – na tripulação técnica. E nos meses de outubro, a valorização da mulher se torna ainda mais evidente. Tudo isso porque, desde 1985, em muitos países o mês de outubro é conhecido como o Mês de Conscientização do Câncer de Mama, uma das maiores causas da mortalidade feminina no mundo. Felizmente, as campanhas de conscientização, ao lado dos avanços nas pesquisas, ajudam a reduzir esses tristes índices. E a aviação também cumpre com o seu papel nessa campanha de conscientização.
No Brasil, a Azul Linhas Aéreas troca as cores de algumas de suas aeronaves, substituindo a cor que lhes dá o nome pelo rosa característico da campanha. A iniciativa, no entanto, não é exatamente pioneira: desde 2005, a americana Delta Airlines adota a mesma estratégia de campanha, e já arrecadou 11 milhões de dólares para a Breast Cancer Research Foundation (BCRF). Tais fundos ajudam em pesquisas de combate ao câncer de mama, além de outras ações de conscientização.
É importante lembrar que cada um de nós pode fazer a sua parte, apoiando as iniciativas do Outubro Rosa. É fundamental protegermos as vidas das mulheres que amamos – e entre essas, estão muitas comandantes, copilotas, comissárias, profissionais que contribuem com sua competência, sensibilidade e charme para que tenhamos uma aviação cada vez mais inclusiva, igualitária, e com profissionais tão competentes quanto a Comandante francesa que inspirou este artigo.
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