Um dos assuntos mais recorrentes na aviação é a “falta de pilotos” no mercado brasileiro. Os meios de comunicação mais populares noticiam isso como a melhor forma de ganhar dinheiro hoje em dia. Exaltam os altos salários da linha aérea e, principalmente, dizem que muitos dos problemas de escala das mesmas se devem ao fato de o mercado possuir mais vagas disponíveis do que profissionais capacitados para ocupá-las.
Nunca vi em nenhuma dessas reportagens a descrição de todo o processo de formação de um piloto. Ninguém nunca exalta as dificuldades que o piloto-aluno teve de passar para enfim chegar a uma companhia aérea de grande porte, ou ser bem remunerado em algum dos campos de atuação do mercado.
Essa é mais uma daquelas discussões em que analisamos diversos aspectos e nunca chegamos a uma conclusão verdadeira. Amigo aviador, permita-me fazer um paralelo da formação aeronáutica com a minha formação em TI. Há pouco mais de dez anos atrás, ingressei em um curso técnico de desenvolvimento de software. Fui abençoado com a possibilidade de cursar uma instituição pública de prestígio, e nos primeiros dias de aula era bombardeado pelos professores dizendo que, em meu primeiro emprego, eu ganharia um salário inicial de aproximadamente três mil reais. Passaram-se muitas noites em claro em que eu estudava, fazia trabalhos e projetos. Meu primeiro dia em uma empresa de software foi por coincidência o meu último dia de curso, e após o primeiro mês eu recebi meu ordenado, no valor de duzentos reais. Muito longe daquilo que haviam me vendido na primeira semana de aula.
Algum tempo depois iniciei o curso superior. Na primeira semana de aula, os professores me disseram que depois de formado meu salário chegaria perto de doze mil reais. Nem preciso dizer até onde isso vai: vocês já devem imaginar que meu salário ainda está muito distante desse valor.
Assim como em TI, o mercado aeronáutico sofre com informações longe da realidade da grande maioria das pessoas que estão entrando no mercado. Sempre haverá alguém que batalhou muito e ingressou na profissão de acordo com essas visões otimistas. Fico muito feliz por saber que nossos amigos tiveram essa oportunidade, mas não é a realidade da maioria.
Tenha sempre ciência de que você pode chegar lá, mas terá muito esforço e dificuldades envolvidas nesse caminho. Como em qualquer área de atuação, você terá altos e baixos durante a jornada e isso poderá te fazer desistir. Mas se esse for seu objetivo, você irá conseguir. Se não for, então nem comece. O importante aqui é o amor pela aviação, não o amor pelo dinheiro.
Abraços e até a próxima semana!
Renato Cobel
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