Carros voadores! Que ideia legal, que bonito de se ver! Esse tema com certeza empolga a maioria das pessoas, mas basta começar a questionar um pouco mais a viabilidade, ou mesmo como seria o simples funcionamento do dia-a-dia com essas maravilhas, para começarem a surgir questões ainda sem resposta.
Hoje, enquanto tento colocar “no papel” minhas dúvidas sobre esse meio de transporte, vivemos um período de muitas inovações tecnológicas, as quais realmente apresentam potencial de revolucionar, e muito, a forma como vemos ou fazemos algumas coisas. Os drones estão cada vez mais na moda: vêm sendo utilizados nas mais diversas atividades e obtendo grande atenção dos governos, a fim de regulamentar a operação desses aparelhos voadores. Aliás, por drone se entende desde minúsculos quadrimotores elétricos usados para filmagem, até máquinas de guerra remotamente operadas por pilotos militares a milhares de quilômetros de suas bases.
Além dessa inovação, a questão dos carros autônomos também toma cada vez mais corpo. É verdade que grandes empresas como Google, Tesla, Uber e até Apple se aventuram nessa área, algumas com grandes sucessos, mas ainda com um ou outro acidente dramático, resultando infelizmente em morte.
No meio desse fervilhão de inovações, outra que vem se destacando é a dos carros voadores. Aliás, na minha memória, constam promessas de carros voadores há muito mais tempo do que de carros autônomos. No cinema, como não lembrar do famigerado filme de 1968 O Calhambeque Magico, ou ainda do clássico 007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro, de 1974? Impossível não citar Os Jetsons e os “carros voadores” de Star Wars Episódio II – o Ataque dos Clones, ou mesmo dos outros episódios onde as rodas e pneus não mais existiam. (Menção honrosa aqui ao DeLoran Voador do filme De volta para o futuro II, pra mim o mais legal de “todos os tempos”!)
Aqui eu proponho uma reflexão: não é por sermos pilotos ou amantes da aviação que temos que boicotar que os carros também voem! Pelo contrário, é até legal podermos voar em aviões e em carros. Mas uma série de questões impedem que eu aceite essa ideia como viável, pelo menos num futuro próximo de 10 ou 20 anos. Abro um pequeno parêntese para um tweet do fundador da Tesla e da SpaceX, Elon Musk: “Flying car pros: travel in 3D fast. Cons: risk of car falling on head much greater.” (“Prós dos carros voadores: viagem rápida e tridimensional. Contras: o risco de carros caindo sobre nossas cabeças é bem maior”).
Temos recorrentes acidentes na aviação geral (não cito a aviação de transporte regular), de pequeno porte, que possui regras e normas claras, órgãos reguladores, demanda por grande preparo teórico e prático para operação, necessidade de constante avaliação dos ‘condutores’, exames médicos criteriosos, e uma série de outros itens que poderia citar. E mesmo assim, não raro, temos acidentes. A maioria desses, vale ressaltar, se dão por falha humana – ou seja, coisas erradas que fazemos, ações impensadas ou falha no julgamento. Automóveis convencionais matam cerca de 1 milhão de pessoas por ano, isso em apenas duas dimensões. Somar um terceiro eixo nessa equação talvez seja um multiplicador trágico.
Creio que é nesse segmento ou em algo muito semelhante que os carros voadores estariam inseridos, porém com muito menos regulação e preparo por parte dos motoristas. Se nas estradas convencionais já há uma quantidade alarmante de acidentes, fico imaginando o mesmo comportamento num ambiente com uma dimensão a mais e menos regras a serem seguidas. E quando um carro tem uma pane por mau funcionamento? Simples, é só ir para o acostamento, chamar o guincho ou um Uber! E para os carros voadores? Bastaria colocar um paraquedas como o do Cirrus? Os motoristas voadores teriam o mesmo treinamento requerido pelos pilotos para agirem em situações de emergência? Estariam eles dispostos a passar por essas provações, ou só querem mesmo ganhar tempo no deslocamento? E isso nos leva a outro ponto.
O quanto estariam os passageiros dos carros voadores dispostos a pagar por esse ganho de tempo? Na era do Concorde, pagava-se em média 10 mil Dólares (algo como 30 mil Reais!) por uma passagem de ida e volta de Londres – Nova York, que durava 3,5 horas. Um voo convencional leva cerca de 8 horas.
E se esses carros forem todos autônomos, sem a possibilidade de intervenção humana? Quantas pessoas teriam coragem de embarcar numa máquina dessas, e entregar sua vida à programação de um computador? E o tal do terrorismo cibernético perpetrado por hackers? Onde decolar? Onde pousar? Será tudo visual? Haverá controladores?
São questões complexas, e na minha opinião, tudo isso ainda está bem longe de se tornar uma realidade. Para os carros voadores serem amplamente utilizados, ainda teremos que vencer algumas fases de desenvolvimento tecnológico e mesmo social. Ou ainda, rever o conceito para algo novo, não um misto de carros e aviões. Talvez uma união de carro autônomo com drone? De qualquer forma, acho que ainda não estamos prontos para isso, mas quero acreditar que um dia será uma realidade. Se bem que, pra quem jogava Atari há 25 anos e hoje voa no X-Plane, é uma revolução possível!
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