Sair de uma situação difícil é sempre o que desejamos quando nos encontramos na mesma, mas nem sempre essa tentativa é bem sucedida, ainda mais quando você não pode ver e não sabe onde está. No entanto, a regra geral da aviação já diz: “A decolagem é opcional, o pouso é obrigatório”. Se você decolar, é sua obrigação trazer a aeronave ao solo em segurança, não obstante qualquer problema. A ICA 100-12 cita que é dever do piloto em voo VFR pousar no aeroporto mais próximo assim que atingir IMC (condições meteorológicas de voo por instrumentos), mas na realidade, as coisas não funcionam assim. Quantas vezes num voo em rota precisamos voar “guardados”, ou em regiões propensas a mau tempo?
Como sempre, nunca podemos seguir tudo ao pé da letra. Existem certas situações na aviação onde precisamos descobrir e pensar outros meios de resolver os imprevistos. Seguindo o foco do tema desta semana, vem a seguinte pergunta: O que eu faço se, de repente, me encontrar no meio de uma nuvem de trovoada?
Primeiramente, seria impossível você se encontrar “de repente” numa situação assim. Você precisaria ter ignorado tudo o que já foi conversado e discutido durante esta semana, e ter assumido de fato o risco. Mas partindo do pressuposto de que tudo aconteceu repentinamente, e o interesse é livrar você e os passageiros do risco, é necessário pensar como um antigo professor meu dizia: “pegue a regra e jogue fora, ache então o manual da aeronave e faça dele a sua bíblia”.
Entenda: nunca é certo ignorar as regras. Por justamente fazer isso, você estaria naquela situação. Mas uma vez dentro de uma nuvem como um CB, é necessário que você primeiro se preocupe em garantir a segurança a bordo, da forma mais eficiente possível. E por que o manual da aeronave? Lá estão todas as limitações e soluções para qualquer problema, e os procedimentos que precisarão ser feitos.
O segundo passo é saber que enfrentar um CB é impossível – não tente fazer história, ainda não ouvi nenhuma bem sucedida sobre uma tentativa assim. Em seguida, evitar o impulso de querer descer para ver o solo é primordial. Como citei anteriormente, na base do CB é onde são encontradas rajadas de windshear e correntes descendentes – ou seja, você poderá chegar perto demais do solo. Mantenha altitude e tente se lembrar da seguinte regra: se você estiver no hemisfério sul, vá para sua esquerda (não olhe pra bússola), tome como referência o sol e mantenha a proa o máximo possível. Já se estiver no hemisfério norte, gire à direita e mantenha.
Essa atitude pode fazer toda a diferença. Isso se justifica pelo fato de que, no HS, uma baixa gira no sentido horário, e quando uma aeronave tende a estar do seu lado esquerdo, os ventos da mesma a “empurram” para longe da formação. No manual da aeronave, você vai poder encontrar velocidades limites para curvar, para minimizar a formação de gelo na fuselagem, e procedimentos para o caso de congelamento do carburador. Por último, infelizmente você precisará contar com a sorte, mas se novamente tiver ignorado o planejamento e decolado com menos combustível do que o necessário, peça para a sorte vir logo.
Como disse no primeiro dia da série, “todo piloto precisa avaliar sensivelmente os riscos das condições do tempo antes de decolar, e uma vez no ar, saber lidar com as intempéries, contratempos e situações inusitadas que ocorrem”. No entanto, saber lidar não quer dizer improvisar, mas sim usar de todos os meios previamente preparados de que o piloto dispõe, para quando (e se) precisar, não contar com a sorte.