De acordo com um conceito amplamente comentado entre os aviadores mais experientes, um bom pouso começa muito antes de se tocar a pista. No caso das aproximações visuais dos voos de instrução, tudo se inicia lá na perna do vento, no través da cabeceira em uso. Estar na altitude e velocidade corretas naquele ponto é determinante para uma aproximação estabilizada. Também ajuda bastante que os ventos estejam calmos, ou com uma componente lateral menos proeminente. Durante uma aproximação final, ventos laterais tendem a jogar o avião para fora do seu eixo de pouso, desalinhando-o com a pista. Como lidar, então, com essa situação?
Algumas técnicas podem ser empregadas para se lidar com os ventos de través, como são formalmente conhecidas as componentes laterais do vento. Em seus manuais de operação, a Boeing cita três técnicas que podem ser utilizadas na maioria das aeronaves de maior porte, e valem ser conhecidas até mesmo pelos pilotos em instrução. Trata-se do crab, de-crab e sideslip.
Crab
A técnica conhecida como “crab” (“caranguejo”, em inglês) consiste em apontar o nariz do avião em direção ao vento de través. Se o vento sopra da direita e arrasta o avião para a esquerda, por exemplo, aponta-se o nariz do avião para o lado direito. Tal como um caranguejo, a aeronave se aproxima de lado, com as asas niveladas, até o momento do toque. Após tocar o solo, alinha-se a aeronave com a pista. O toque nessa posição, no entanto, é restrito apenas a aeronaves de maior porte, e em condições de pista molhada.
De-crab
O de-crab é a segunda técnica de pouso, bastante similar ao crab. A diferença neste caso é que, momentos antes do toque, o piloto deve aplicar pedal ao lado contrário do vento, com uma leve aplicação de ailerons na direção deste, de forma a alinhar a aeronave com a pista. Desta forma, evita-se um atrito lateral dos pneus com o solo, que no caso da pista molhada, se transformaria em uma leve derrapagem.
Sideslip
A terceira técnica utilizada para o pouso com vento de través é o sideslip. Aplicam-se os ailerons para o lado do vento, e os pedais para o lado contrário deste. Desta forma, a aeronave se aproxima com uma leve rolagem lateral, levantando suavemente o nariz com a ação do leme. Neste caso, é natural que o trem de pouso principal do lado do vento toque primeiro a pista. Deve-se tomar cuidado, no entanto, para que uma rolagem lateral excessiva não leve a uma colisão da nacele ou da ponta da asa com o solo.
Escolhendo a melhor técnica
Apesar do manual de operações de cada companhia trazer suas próprias recomendações, cabe ao piloto em comando decidir pela técnica mais adequada a cada pouso. É importante lembrar-se da restrição da técnica de crab em pistas secas, e logicamente, das limitações de cada aeronave. E acima de tudo, não se deve abusar das técnicas de pouso com vento de través: em caso de componentes muito fortes, é sempre melhor prosseguir para o aeródromo de destino alternativo.
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