Curso de INVA: Fazer ou não?

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Como escrevi no último post, a maioria dos pilotos que checam o PC buscam acumular horas de voo desejando o ingresso nas companhias aéreas, ou na aviação executiva. Aqueles que possuem uma boa condição financeira podem optar por pagar essas horas de voo, ou convalidar as carteiras PC-MLTE/IFR para a FAA, e então tirar o type rating para voar nos EUA, África ou Ásia. Porém, para aqueles que não possuem o “QI” para entrar na aviação executiva ou comercial – e contam somente com o PC-MLTE/IFR, ICAO e Jet Training, além de não terem condições de pagar pelas horas de voo para completar 250 ou 500 horas de voo – a alternativa é a instrução aérea.

Vejo a carreira de INVA como um passo de grande amadurecimento profissional e pessoal em curto espaço de tempo. No começo, o novo INVA será um instrutor com pouca experiência, mas com o passar de um mês já terá um grande avanço como piloto, e também como instrutor de voo. E isso acontece sempre que um INVA é liberado em um novo equipamento. As 20 primeiras horas de voo no novo avião são de adaptação. Após esse período, o INVA estará muito mais seguro no novo equipamento. A mesma situação ocorre no simulador IFR e na instrução IFR-prático.

Falando da parte profissional, um piloto que vira instrutor de voo vai adquirir maior atenção com relação ao pouso e a decolagem, já que terá que intervir nos comandos somente no último instante. O INVA só deve agir em situações extremas, e isso vai deixar o piloto muito mais preparado para pousar em diversas situações e locais diferentes, além de torná-lo mais consciente com obrigações como SLOT, ISA, Plano de Voo e outros, já que isso é atribuição do INVA.

Tanto no simulador de voo quanto no voo IFR-prático, há um momento de grande evolução do INVA na questão do cheque cruzado. É nesse ponto que acredito ocorrer o maior crescimento do piloto, deixando aquele aluno que sempre foi satisfatório no voo IFR, depois da instrução, um piloto muito bom na execução de todo o voo por instrumentos.

Outro tópico importante é que quem mais aprende é justamente aquele que ensina, pois para dar uma boa aula prática ou teórica, o INVA deve estar muito preparado e conhecer bem o que está lecionando. Os alunos apresentam novas dúvidas e questões, que acabam por fazer o INVA buscar novas informações e mais conhecimento, se atualizando sempre. Por esse motivo, o INVA é um aviador que está com a experiência recente em dia.

Um ponto importante é o de que muitos pilotos checam o PC aos 20 anos, e a grande maioria nunca trabalhou. Pode-se criar, nesse caso, uma confusão entre aluno e amigo, o que acaba sendo um fator negativo que acontece no dia-a-dia da instrução. Afinal, o comandante nem sempre será amigo do copiloto, mas sim chefe. E a instrução acaba auxiliando nessa mudança de postura profissional, mostrando que o aluno não é amigo e sim aluno, o qual vai avaliar o instrutor como um profissional. Esse “cliente” está buscando um serviço bem feito, não um amigo, e vai reclamar à direção quando o serviço não for bem prestado. Por isso é importante ficar atento com esse relacionamento. Além do mais, surge o ponto da postura como funcionário: horário, falta, atraso, férias, chefes e amigos de trabalho.

Existem muitos outros pontos de evolução na carreira do piloto em que a instrução ajuda. Entre eles estão o CRM e a assertividade na comunicação, onde temos que explicar várias vezes a mesma situação, mantendo sempre a calma. Isso também ocorre quando o aluno busca o confronto, e o INVA tem que manter a postura de comandante.

Mas tudo isso só é possível com algo muito importante, que não se pode comprar, pois não tem preço. Você, piloto que acabou de checar o PC, tem que ter esse desejo de buscar o crescimento profissional e pessoal na carreira de piloto. Deve lembrar que cada hora de voo é trabalho na profissão que sempre sonhou, ainda que voando pequenos aviões e em baixas altitudes. Quando voar o C-172 ou um Sêneca, pense que o avião só vai crescer para trás, aumentando o número de passageiros e a tecnologia embarcada. Porém, a rotina de trabalho é muito parecida: acordar cedo e voar por muitas horas durante o dia. Essa é uma profissão em que, infelizmente, a remuneração não é das melhores. Por outro lado, a evolução é muito grande.

Para deixar uma mensagem mais clara, deixo como sugestão a leitura deste artigo.

Quero deixar ainda a seguinte mensagem: depois de fazer o curso de INVA-prático, só entre na instrução se você realmente desejar dar esse passo. Caso contrário, você não conseguirá ensinar ninguém, ficando cada vez mais parecido com aquele instrutor com quem você não gostou de ter voado. Tenho certeza de que ele não era feliz como instrutor de voo. Por tudo isso, é preciso estar feliz e querer estar nessa posição, mesmo que ela seja somente temporária.

Rodrigo Satoshi
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