Seguindo com nossa série sobre dúvidas quanto à formação aeronáutica, vamos responder à pergunta de hoje:
Dúvida
Oscar Lima Alfa!
Admiro muito o trabalho de vocês e quero dizer que foram vocês que me fizeram perder o medo de começar minha formação. Antes do Canal Piloto, seguir a carreira de aviador era algo impensável.
Pois bem, minha dúvida é que como a maioria do pessoal, infelizmente não tenho grandes recursos, principalmente para as horas do PC. Nada que me tire o sono pois tenho a determinação de seguir em frente e sei que um dia vou conseguir atingir meus objetivos.
Mas chega de enrolação e vamos à minha dúvida: meu aeroclube possui um Tupi-E712, e eu gostaria de saber se depois de ter checado o PP eu poderia “rachar” o valor da hora de vôo com três amigos para voar nesta aeronave com os três?
Desde já, grato pela atenção dispensada, sei que o tempo de vocês é corrido para poder me responder!
Att.
Guilherme Roberti, Palotina PR
Nossa resposta
Guilherme,
Até onde eu conheço, essa prática não é utilizada pelos aeroclubes e escolas de aviação no Brasil. Afinal, no preço da hora de voo, estão inclusas as despesas do aeroclube com o avião (manutenção/combustível/hora de voo), além de que o INVA tem o seu salário de acordo com a hora de voo de cada aluno.
Nos EUA, voam dois alunos em um mesmo avião. Para explicar melhor isso, falei com o Enderson Rafael, representante da Treasure Coast Flight Training. Ele me disse o seguinte:
“É assim: os dois alunos precisam ser PP checado, e o ideal é que tenham IFR ou estejam tirando a licença. Um voa “sob capota” (under the hood – em treinamento) e outro visual. Ou seja, o que está nos controles e em IFR simulado loga PIC, e quem está na direita, cuidando e contemplando as regras de voo VFR, loga como safety pilot.
Um exemplo: KDAB-KMCO-KDAB, uma hora pra ir e outra pra voltar. Um loga PIC na ida, e o outro safety. Eles trocam de posição, e na volta o outro loga PIC e o que fez a ida loga safety. No fim, ambos logaram 2h totais, sendo 1h PIC. Chamamos esta prática de “time share”, pois cada um paga uma hora e loga duas, o que ajuda a abater as horas de voo cross-country (de navegação) pra quem pretende tirar a licença de PC no Part 61 da FAA. Lembrando que para o time share acontecer, as condições de voo têm que ser VMC. Do contrário o PIC estaria em IFR real e o safety pilot perderia a função numa aeronave single pilot, como são as que usamos pra isso, como Cessna 152/172 e Seneca.
Eu acho a medida perfeita de segurança e custo entre o voo solo completo e o tal solo assistido que inventaram no Brasil. Afinal, como ambos são geralmente inexperientes – na faixa entre 60 e 220 horas totais – precisam aprender a tomar decisões, mas têm a ajuda de um colega, sem comprometer a segurança mas ajudando a formar as qualidades de piloto em comando. Afinal, ninguém aprende a tomar decisões com o instrutor do lado. No típico Part 61, um aluno que faça PP, IFR e PC voará cerca de 120 horas nesta modalidade.
Na Treasure já tivemos alunos indo para Nova Iorque, Washington DC e Dallas assim.
Abraços,
Enderson”
Atenciosamente,
INVA – Instrutor de Voo de Avião
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