Engenharia de Operações – por Philipe Pacheco

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Dando sequencia à série dos bastidores de Operações em Linhas Aéreas, falemos agora a respeito da Engenharia de Operações.

A Engenharia é de extrema importância para a empresa, vez que todo o planejamento da operação passa por ela. É a Engenharia quem autoriza ou veta qualquer voo solicitado pelo Departamento Comercial ou Planejamento de Malha. Apesar do nome, não são só engenheiros que trabalham no setor. Há uma gama bastante diversa de profissionais que vão desde o óbvio Engenheiro Aeronáutico até DOVs, aviadores, comissários e profissionais administrativos em geral.

As atribuições do setor são várias, falemos um pouco das principais:

• Flight Standards

A gerência de Flight Standards está atrelada à Engenharia. A principal atribuição do gerente, que sempre é um Comandante da empresa, é atualizar todos os manuais de operações, tanto os específicos das aeronaves (FCOM, FCTM, QRH) quanto o MGO (Manual Geral de Operações) e MEL (Minimum Equipment List, ou Lista de Equipamentos Mínimos) da empresa. O gerente desse setor mantém contato direto com o fabricante da aeronave para troca de informações, e mantém conversas constantes com as autoridades aeronáuticas. A engenharia fornece todas as análises operacionais necessárias para que o gerente de Flight Standards consiga desempenhar seu papel da melhor forma possível.

• Traslados de Aeronaves

É a engenharia que planeja todos os traslados de aeronaves da empresa. Para esse trabalho, diversos profissionais são envolvidos. Os DOVs do setor realizam os cálculos de performance e autonomia, melhor local para pouso intermediário e autorizações de sobrevoo. Um engenheiro da equipe faz todos os cálculos de performance, e calcula as análises de pouso e decolagem. Profissionais administrativos contratam as empresas de handling e abastecimento (junto com o setor de Suprimentos) para atender a aeronave, e fazem todos os contatos com a empresa responsável pela aeronave (no caso de uma aeronave que vai integrar a frota), ou com a empresa que irá receber o avião (para o caso de uma devolução ou venda). Nesse caso, o gerente de Flight Standards também participa do processo, junto com a Chefia de Pilotos, para levantar todas as informações relevantes aos tripulantes que serão responsáveis pelo voo e transmiti-las, geralmente através de um briefing dias antes do voo.

• Autorizações de Sobrevoo

É a engenharia que coordena as autorizações de sobrevoo. Em casos de fretamento ou traslado, onde os países sobrevoados não fazem parte da malha regular da empresa, um DOV da engenharia colhe todas as informações do voo, e envia a solicitação de autorização de sobrevoo à autoridade aeronáutica do país a ser sobrevoado. Cada país trabalha de uma forma, e tem um prazo específico para essa solicitação. Alguns países pedem apenas a apresentação do plano de voo com 24 horas de antecedência, outros autorizam o voo com menos de 24 horas da data de decolagem, enquanto outros pedem 15 dias úteis de antecedência. Aqui não há uma regra geral, sendo necessário estudar a regulamentação de cada país em específico.

• Acompanhamento de consumo

Uma das principais atribuições da engenharia é acompanhar todas as operações, para ter o maior número de informações relevantes, a fim de aprimorar o planejamento e reduzir custos. Um dos principais trabalhos realizados é o acompanhamento de consumo de combustível. Para tal, são levantadas todas as ordens de abastecimento de todos os voos em todas as bases, e comparadas com o consumo médio de cada etapa do voo. Dessa forma, é possível precisar lugares e horários onde há um consumo maior de combustível, e adaptar o planejamento do voo para essa realidade. Também é possível comparar custos de combustível nas bases, para determinar abastecimento econômico em algumas etapas, abastecimento mínimo em outras e sugerir ações para otimizar o consumo. Junto com a manutenção, é possível também criar programas para reduzir o consumo, como programa de lavagem de compressor, por exemplo.

• Análise de Rotas

Sempre que o departamento comercial solicita uma nova rota, é a engenharia de operações quem faz a análise de viabilidade operacional. Após todas as informações passadas pelo comercial da empresa, é feita uma análise abordando todos os fatores relevantes para a operação, tais como alternados, abastecimento, condições e PCN de pista e pátio, análise de procedimentos na localidade, análises de pista, obstáculos, categoria de combate a incêndio, NOTAMs, tráfego aéreo na localidade e etc. Após essa análise, é definido se o voo é viável ou não, quantos passageiros poderão ser transportados naquele trecho, e qual a aeronave ideal da frota da empresa para operar esse voo. Após essa análise, o departamento comercial define se irá ou não operar aquele trecho. O mesmo vale para fretamentos.

• Análise de pista

Além da análise feita durante a fase de planejamento, que define os pesos máximos de pouso e decolagem para a pista do aeroporto e seus limites máximos de vento de cauda e temperatura ambiente, é comum haver NOTAM de interdição parcial de pista para obras. Nesse caso, é feito novamente um estudo, para determinar os novos pesos máximos de operação para aquela pista específica. Os estudos para análises de pista levam em conta fatores como comprimento da pista, altitude do aeroporto, slope, obstáculos nos setores de decolagem e pouso, PCN e acúmulo de água na pista.

• Procedimentos de contingência

A grande maioria das empresas conta com procedimentos de contingência específicos para algumas operações. Tais procedimentos serão usados caso algo saia do esperado em locais de operação crítica. Exemplos clássicos são os procedimentos de contingência para falha de ENG na decolagem de Congonhas, e o procedimento de contingência para despressurização durante o cruzamento da Cordilheira dos Andes. É um grupo formado por engenheiros, DOVs e tripulantes técnicos quem traça esses procedimentos.

Como foi possível notar, apesar do nome ser Engenharia de Operações, o trabalho realizado vai muito além do trabalho dos engenheiros aeronáuticos.
Na próxima semana, abordarei o centro nervoso da empresa, onde todas as decisões críticas são tomadas.

Philipe Pacheco
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