Como tudo que é privilégio de poucos, criou-se com o tempo uma aura de mistério em torno da formação aeronáutica nos Estados Unidos. Mesmo com a quantidade de alunos brasileiros por lá aumentando nos últimos anos, é provável que o número de PCs brasileiros que sejam FAA não passe de algumas centenas. Mas à medida que o ensino americano vai sendo desestigmatizado, esse número tem razões para aumentar consideravelmente, uma vez que a formação na FAA traz bons diferenciais no curto prazo e muitos ao longo da carreira de um piloto. Porém, enquanto isso não acontece, ainda há muitas lendas que precisam ser esclarecidas. Mesmo antes de representar uma escola americana no Brasil, eu já escutava algumas perguntas curiosas e afirmações tão consistentes quanto um pudim cru, e embora eu não saiba tudo e nem vá lembrar de todas, vou tentar reunir algumas aqui que certamente ajudarão quem considera a ideia de voar por terras e céus do Tio Sam.
Lenda: A formação nos EUA é mais barata que no Brasil.
Fato: Depende, de muita coisa. Mas em geral, não é. Se pegarmos o pacote básico das escolas mais baratas dos EUA e o pacote básico das escolas mais caras do Brasil, o da escola dos EUA ainda estará, hoje em dia, cerca de 10 mil reais mais caro. Mas… para checar o PC na escola mais barata americana, você voará 100 horas a mais que na escola mais cara do Brasil. Logo, o valor da hora no pacote completo, este sim chega a ser 40% mais barato – em grande parte por causa do time-share, que permite que dois alunos dividam o valor da hora nas navegações visuais antes do PC.
Mas há muitas e muitas variáveis: se o sujeito mora do lado do aeroclube no Brasil, não vai gastar com transporte e hospedagem. Se ele mora a horas de viagem, vai gastar tanto ou mais do que gastaria fazendo sua formação fora do Brasil, uma vez que na FAA a formação é bem mais rápida. O combustível nos EUA é mais barato que aqui, o aluguel dos aviões é mais barato que aqui, enfim, há muitas coisas que são mais baratas que no Brasil, e isso dá a falsa impressão de que a formação lá também o seja – com o agravante que para voar nos EUA é preciso ter o dinheiro quase todo de antemão: as escolas até aceitam o pagamento em parcelas, mas o consulado, na emissão do visto de estudante, pode solicitar um extrato bancário que prove que você ou parentes próximos têm essa quantia.
E claro, tudo gira em torno do dólar. Numa “rule of thumb”, com o dólar a menos de 2 reais, a formação nos EUA é mais barata que aqui. Mas já há alguns anos isso não acontece, e com a recuperação das maiores economias e estagnação da nossa, dificilmente o real se valorizará, e isso tem que entrar na sua conta na hora da decisão.