Operações – Por Philipe Pacheco

posted in: Artigos | 1

Operações_Canal_Piloto

Qualquer pessoa que se interesse pela aviação comercial logo se familiariza com o funcionamento de uma empresa aérea, principalmente no que diz respeito a Operações. Será mesmo?

Será que o público geral sabe o que acontece nos bastidores de uma empresa aérea, para que um voo possa ser executado sem atrasos ou qualquer tipo de problema?
À primeira vista parece que sim, mas se pararmos para pensar, pouca coisa pode ser observada pelos passageiros num aeroporto. O que o passageiro vê é só o resultado final de uma série de processos internos, feitos por profissionais das mais diversas áreas, para que o avião esteja no aeroporto em total condição de voo e com uma tripulação a postos.

Iniciaremos hoje uma série semanal de artigos que irão mostrar tudo que está envolvido na operação de um voo comercial, mas que somente quem trabalha dentro do setor de Operações de uma empresa aérea consegue ver.

Antes de iniciar a série, vamos às devidas apresentações.

Sou Philipe Pacheco, bacharel em aviação civil. Por 5 anos, trabalhei em Operações numa das principais empresas aéreas do país. Trabalhei especificamente no CCO da empresa, num setor chamado Apoio Operacional, onde a principal atribuição é dar suporte técnico e operacional aos tripulantes para a tomada de decisões críticas. Pela própria natureza do trabalho, contatos diretos com todos os setores de Operações e Safety eram necessários diariamente. Falarei mais profundamente sobre esse setor posteriormente.

Para o primeiro artigo da série, farei um apanhado geral de todas as áreas diretamente envolvidas na operação, e posteriormente, irei aprofundar cada setor.
Cada empresa possui uma organização diferente no que diz respeito às gerências e coordenadorias que fazem parte da Diretoria de Operações. Em linhas gerais, podemos dizer que as atribuições da diretoria são bastante parecidas, mudando pouco de uma empresa para outra. Comecemos pela Chefia de Pilotos.

· Chefia de Pilotos

A principal atribuição da chefia é disciplinar. Qualquer problema de disciplina que ocorrer entre o grupo de tripulantes técnicos, caberá à chefia de pilotos intervir. Além das questões disciplinares, também é de responsabilidade da chefia, junto à escala de voos, definir e conceder as folgas pedidas dos tripulantes. Qualquer questão que envolva o tripulante como ocorrências, acidentes, incidentes e demais problemas em geral, é a chefia quem os trata diretamente com o piloto.

· Gerência de Instrução

A gerência de instrução trabalha diretamente com a chefia de pilotos e a escala de voos, para garantir que todos os tripulantes estejam com sua documentação de voo e carteiras válidas. É responsabilidade da Instrução agendar os treinamentos em simulador e cursos teóricos para os pilotos.

· Engenharia de Operações

A Engenharia é diretamente ligada à operação, uma vez que é responsável por todos os estudos e análises para que o voo possa ser efetuado, incluindo análise de viabilidade. Antes de um voo começar a ser vendido pela empresa, é a engenharia de operações quem define a aeronave ideal, o máximo de passageiros e carga que poderão ser vendidos, e demais análises técnicas. Há diversos profissionais trabalhando na engenharia, e futuramente irei descrever melhor as atribuições do setor.

· Planejamento de Escala

O planejamento de escala é responsável por divulgar aos tripulantes a programação prevista para o mês. Após todas as informações de folgas pedidas, treinamentos programados e malha de voos, o planejamento de escala distribui todos os voos da empresa entre os tripulantes, bem como programa os sobreavisos e reservas.

· Centro de Controle de Operações – CCO

O cérebro da empresa. É no CCO que todas as decisões relativas à operação diária serão tomadas. Vários setores trabalham dentro do CCO. São eles:

Coordenação de Voos: Responsável por distribuir os voos da malha para a frota da empresa, e agendar as paradas para manutenção;

Execução de Escala: É impossível que a escala planejada seja executada integralmente, por todos os tripulantes da empresa, uma vez que há inúmeros fatores que fazem com que sejam necessárias mudanças de programação – como, por exemplo, alternados, dispensas médicas de tripulantes, atrasos e cancelamentos de voos, entre outros. É a execução de escala quem “fecha” esses voos;

Central DOV: Há uma tendência mundial das empresas aéreas em centralizar suas operações, motivo pelo qual todas as grandes empresas aéreas contam com uma Central de Despacho. Tal medida evita a necessidade de vários DOVs nas bases da empresa.

Piloto Coordenador: A figura do Piloto Coordenador foi criada pela Lufthansa, e logo implementada por praticamente todas as grandes empresas aéreas do mundo. Sua função é ser um link direto entre os tripulantes técnicos e todos os demais setores de Operações e manutenção, para a tomada de decisões críticas.

Trouble Shooting: O Trouble Shooting fica localizado na principal base da empresa, geralmente dentro ou próximo ao CCO. Sempre é formado por mecânicos experientes. Sua principal função é coordenar as equipes de manutenção nas bases, visando auxiliar os mecânicos no atendimento de uma falha ou ocorrência com alguma aeronave. O Trouble Shooting trabalha em coordenação com todas as bases, e define também o melhor local para que uma aeronave que esteja voando com algum item restritivo (liberado conforme o MEL) seja trabalhada para que a pane seja sanada.

Como já foi possível notar, há um verdadeiro exército trabalhando nos bastidores para que cada voo possa seguir. Nas próximas semanas, aprofundarei cada setor, detalharei melhor suas atribuições e qual a sua importância na operação da empresa.

Philipe Pacheco
Redes