Desde o primeiro dia de sua formação, um piloto é treinado a lidar com panes e procedimentos de emergência. E esse tipo de treinamento há de acompanhá-lo por toda a sua vida como piloto, nos exaustivos treinamentos de Type Rating e recheques exigidos pelas companhias aéreas e fabricantes de aeronaves. Mas por mais que um piloto treine esses procedimentos, ele passa toda a sua vida esperando NÃO precisar utilizá-los. É bem verdade que salvar o dia pode transformar um piloto em um herói, mas a pergunta mais importante a se fazer é: até que ponto um piloto REALMENTE quer ser um herói? Com um convite especial da Warner Bros. do Brasil, nós do Canal Piloto tivemos a honra de estar na primeira platéia do Brasil a assistir o mais esperado filme de aviação do ano, e trazemos para vocês em primeira mão as nossas impressões.
Com impecável atuação de Tom Hanks e primorosa direção de Clint Eastwood, “Sully” retrata com exatidão técnica e excelência cinematográfica os eventos que sucederam o incidente ocorrido no dia 15 de Janeiro de 2009, com o voo 1549 da US Airways. Na ocasião, o Comandante Chesley Sullemberger e seu Primeiro Oficial Jeff Skiles salvaram todas as 155 vidas a bordo de seu Airbus A320, após uma perda dos dois motores da aeronave em baixa altura, o que tornaria qualquer chance de sobrevivência matematicamente impossível. A notícia, não por acaso chamada posteriormente de “O Milagre do Rio Hudson”, impressiona até hoje pessoas do mundo inteiro – principalmente os moradores de Nova Iorque, onde, desde 2001, notícias envolvendo aeronaves não costumam trazer boas lembranças.
Muito mais do que falar apenas sobre o incidente, o filme mostra também a pressão psicológica sofrida pelos envolvidos, em especial os tripulantes e seus familiares, bombardeados por perguntas das investigações do NTSB (National Transportation Safety Board, ou Comitê Nacional de Segurança no Transporte), e da mídia jornalística sedenta por vendas e audiência. O filme mostra também muitos questionamentos feitos pelos investigadores, que na frieza inerente de suas funções, aventaram a hipótese da decisão tomada pelo Comandante Sullemberger não ser a mais adequada para a situação. Mas até que ponto é válido questionar o julgamento dos pilotos, sem conhecer como eles as condições do momento do incidente, e sem estar na pele de quem vivencia uma situação de vida ou morte inesperada e sem precedentes? Qual a real importância do fator humano na segurança de voo, em um mundo de aeronaves cada vez mais autônomas? E após os pilotos cumprirem com sua culminante função de proteger todas as vidas a bordo de sua aeronave, ainda resta algo a ser questionado?
“Sully” procura trazer respostas a todas essas perguntas, sem deixar de ser um filme emocionante e tocante. É um filme, acima de tudo, sobre seres humanos, sua paixão por voar e seu comprometimento com a integridade e a vida alheia. Afinal, um milagre não é algo que se constrói sozinho – e neste caso, foram necessários pilotos, comissárias, equipes de busca e salvamento, e até mesmo navegantes que, naquele momento, cumpriam apenas com suas funções rotineiras, em suas embarcações sobre o Rio Hudson. Pessoas que, ao final do dia, querem apenas voltar para aqueles que amam, sem abrir mão da paz de seus anonimatos. Pessoas que, em sua humildade e abnegação em favor do próximo, nos dão o exemplo de como deve ser um verdadeiro aviador.
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