Imagine a seguinte cena: você é convidado a jogar um jogo do qual nunca ouviu falar. Como o convite parece interessante, você pesquisa todas as informações possíveis sobre esse jogo: como jogar, quais as regras básicas, estratégias para vencer…. Você se prepara arduamente, até que chega o dia da primeira partida. Todas as regras dos livros e manuais estão frescas e claras em sua mente, até que, assim que se inicia a partida, as verdadeiras regras se mostram totalmente diferentes daquelas que você estudou! Na prática, tudo se mostra completamente diferente do que rezava a teoria. E eis que, com o jogo em andamento, você precisa reaprender a jogá-lo – muitas vezes, com o tempo correndo contra você.
Pode parecer o roteiro de um filme sombrio de ficção, mas essa é uma dura realidade em muitas áreas profissionais. O ensino formal – por mais importante que de fato seja – muitas vezes não prepara o aluno para os desafios que encontrará na profissão que escolheu. E se lhe dissessem que, na aviação, isso não será diferente? E se lhe disserem que, após anos estudando a tríade do “voar, navegar e comunicar”, seus maiores desafios podem não se resumir a isso? E se, na carreira de um piloto, voar sua aeronave for o menor de seus problemas?
Pensando nesse possível cenário, falemos um pouco hoje sobre alguns desafios para os quais o piloto deve ir além dos estudos convencionais:
Gestão de Recursos e Consumo
Um bom piloto não é apenas aquele que leva uma aeronave de um ponto “A” a um ponto “B”. Ao cuidar de uma máquina que consome altas cifras em suas operações, a responsabilidade do piloto se estende também aos recursos que lhe são disponibilizados. É possível reduzir o consumo de combustível em um mesmo trecho? Posso comprometer o rendimento de minha aeronave se não inspecioná-la corretamente? E a forma de pousar, pode influenciar no desgaste de peças e pneus, por exemplo?
Gestão de Expectativas
Como dito acima, uma companhia aérea espera que um piloto possa maximizar os ganhos sobre os recursos de trabalho que lhe são oferecidos. Mas os clientes da empresa – neste caso, os passageiros – também têm expectativas próprias: o voo me levará pontualmente ao meu compromisso? A viagem será agradável? Quais riscos eu corro ao embarcar em uma aeronave?
O passageiro frequente geralmente tem uma agenda atribulada; o passageiro casual, por outro lado, não está tão acostumado à sensação de voar quanto o piloto que conduz a aeronave. Se um se atrasar, ou ainda, se o outro achar a experiência desagradável ou mesmo perigosa, nenhum dos dois aceitará um “foi o vento” como resposta.
Gestão de Equipes
Na condição de líder de uma equipe, um(a) Comandante precisa orquestrar a sua tripulação de forma a levá-la a atingir os seus objetivos. Sendo assim, pela segurança de todos e pelo sucesso do voo, ele ou ela deve se perguntar, entre outras coisas: há perfis psicológicos conflitantes na minha tripulação? Estão todos descansados, motivados e aptos a cumprir com suas funções? Há algo que eu possa ou mesmo precise fazer por meus tripulantes? Diferente do que se possa imaginar, liderar não é ter pessoas trabalhando para si, mas sim, trabalhar pelo time para que seus integrantes possam atingir seus objetivos comuns.
Voar com segurança. Navegar de forma bem planejada e eficiente. Comunicar de forma precisa e sucinta. Estudar os conhecimentos técnicos jamais perderá o seu valor. Porém, restringir-se a eles não lhe preparará para todos os desafios de sua futura profissão. Como acontece com qualquer área de trabalho, os fatores que destacam um profissional vão além do que os livros podem ensinar. E esses conhecimentos, muitas vezes, se aprendem de uma única forma: na prática, com o jogo já em andamento.
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