Voando para Longe do Ninho

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“É um negócio perigoso, Frodo, sair da sua porta. Você pisa na estrada, e, se não controlar seus pés, não há como saber até onde você pode ser levado” – Bilbo Baggins.

O pequeno Cessna 152 curvou do eixo de decolagem para a perna do través, e dali para a perna do vento. No través da torre, curvou para o lado oposto ao das duas curvas anteriores. Olhando para trás, seria possível ver o sol se pondo por trás da serra, enquanto o aeroporto ficava cada vez menor, até desaparecer. À frente, um caminho sobrevoado por diversas vezes, mas que naquele momento parecia inteiramente novo por um pequeno detalhe: o assento do lado direito da aeronave estava vazio.

Foi desta forma que, recentemente, passei pela experiência de me afastar pela primeira vez do aeródromo sem a companhia de um instrutor. O primeiro voo solo é o passo inicial numa jornada pela construção de sua confiança, porém, novos passos precisam ser dados. E um deles consiste em, justamente, abandonar a “zona de conforto” do circuito de tráfego, onde a pista está sempre ao alcance dos seus olhos, disponível para que você pouse no caso de qualquer eventualidade. E o que podemos compartilhar por passar por essa experiência? Vejamos alguns pontos:


Estude suas referências visuais

Mesmo não sendo ainda uma navegação, um simples voo local exige bastante atenção do aluno piloto. Afinal, é fácil se desorientar quando o aeródromo, sua principal referência, não está ao seu alcance visual. Estar familiarizado com as cartas de voo, conhecer proas dos corredores e limites de altitude, saber identificar as principais referências no solo, tudo isso é fundamental para um voo tranquilo. Sua atenção estará naturalmente redobrada, visto que não haverá um instrutor ou safety pilot para uma verificação cruzada de informações.


Valorize o controle de tráfego

Se você tiver a oportunidade de voar em uma área controlada, não se sinta chateado por ter que voar e comunicar ao mesmo tempo. Pelo contrário: o controle de tráfego é um importante apoio à sua segurança de voo. Reporte sua posição, esteja atento a eventuais orientações, e se preciso, solicite confirmação de sua posição e proa ideal. Mais vergonhoso do que reconhecer uma eventual desorientação é invadir um espaço aéreo, ingressando nele sem a devida autorização. Lembre-se: o orgulho não vai navegar a aeronave por você. E se o seu receio for a fluência de comunicação, seguir as nossas dicas de estudo de fraseologia pode lhe ajudar.


Planeje o seu voo

Mesmo sendo um voo local de aproximadamente uma hora, algo geralmente coberto pela validade de um METAR, conferir visualmente a meteorologia e estar ciente das previsões do TAF é importante para evitar surpresas. Uma boa e cuidadosa inspeção pré-voo também é indispensável.

Dependendo da região, horário e época em que você voa, alguns desafios adicionais podem surgir ao seu voo. Voar numa proa em direção ao sol, lidando com o ofuscamento, ou ter que lidar com queimadas sazonais prejudicando a visibilidade são alguns dos desafios que pessoalmente encontrei. Balões soltos pelo espaço aéreo também exigem bastante atenção – além de uma conscientização social mais forte sobre o problema. Felizmente, a velocidade de uma aeronave de instrução ainda nos possibilita algum tempo de reação.


Tendo em mente estes pontos, você terá em mãos o que precisa para que o seu primeiro voo solo local seja seguro e tranquilo. Ao final, a sensação de voltar pra casa em segurança é indescritível. Mas esteja ciente: logo você terá sede por voos cada vez mais longos.

Luiz Cláudio Ribeirinho
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