Quando se trata de se tornar piloto, apenas uma coisa é certa: a estrada é longa. É interessante, porém, que conforme vamos andando rumo ao seu prolongamento, vamos deixando para trás todos aqueles problemas, desafios e barreiras que outrora pareciam insuperáveis, tornando simples tijolos em nossa longa estrada dourada.
Tempos atrás, gravamos uma entrevista com nosso amigo Yuri Dimitrov, pessoa que conheci pessoalmente há algum tempo, e que na ocasião se reuniu conosco para produzirmos um podcast abordando o momento crítico da carreira pelo qual passava: a busca do primeiro emprego fixo e estável como piloto, tema este que é pertinente pelo fato de ser uma fase comum, pela qual os recém formados acabam passando.
Alguns meses depois da publicação desse fatídico episódio, na gravação daquele que iria ao ar em seguida, fico sabendo através de meus colegas de gravação que o Dimitrov havia conseguido, e estava naquele momento na Alemanha, realizando o treinamento da aeronave que iria pilotar em uma das linhas aéreas de nosso país.
Na parabenização a ele, citei naturalmente o dizer que deu origem a este episódio de nossa série: “Aquele podcast sobre a dificuldade no mercado de trabalho agora se tornou apenas mais um tijolo dourado na sua estrada”.
Pensando sobre essa expressão e analogia, é interessante imaginarmos quantos tijolos vamos ultrapassando ao longo dessa caminhada, e quantas barreiras, outrora insuperáveis, já ficaram para trás em nossa formação.
No início da minha formação no Campo de Marte, aeroporto de grande tráfego, a habilidade de falar no rádio era um coisa de outro mundo, coisa essa que apenas os super heróis chamados instrutores de voo conseguiam fazer naquele nosso pequeno mundo da instrução. Mas apenas cinco aulas de voo depois, eu já conseguia assumir a comunicação através do rádio.
No meu primeiro voo, fiquei surpreso como o instrutor estava conseguindo se localizar sem utilizar nenhum GPS ou carta de voo naquela instrução local, e mesmo após as dicas do debriefing, eu imaginava que aquele nível de habilidade era algo inalcançável. Entretanto, evolui no mesmo nível dos demais alunos também neste ponto.
Pousar sem ficar sambando na aproximação e sem acabar com um catrapinho na pista? Também achei que demoraria muito para superar esse problema, e felizmente estava errado.
Quando o assunto era fazer navegações de três horas voando solo, a insegurança falava mais alto que a vontade de o fazer. Entretanto, após a instrução e ambientação corretas, a minha auto confiança tornou isso algo comum com o tempo, passando a ser apenas mais uma pedra retangular e dourada em nossa longa estrada de tijolos amarelos.
Aprender a voar, se formar, e crescer na profissão. Essa é a estrada da aviação, a qual muitos começam a trilhar mesmo estando cientes das dificuldades, e do agouro daqueles que lhe olham parados no acostamento. O destino vale a caminhada.
A estrada não é curta, os tijolos não são baratos, e nem sempre o caminho é liso e em linha reta. Mas do mesmo modo que outros completaram essa longa caminhada, você também o poderá fazer. Basta começar dando o primeiro passo.
Abraços,
Sales
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