A infraestrutura aeroportuária: Vai ou racha?

posted in: Antonio Ribeiro, Textos | 0
Na antevéspera do natal, levei minha avó ao Aeroporto de Cumbica. Malas e pessoas no carro, “check-list” pra ver se nada foi esquecido, tocamos para o Aeroporto. Sete e meia da manhã.
 
Por milagre, sobravam algumas vagas. Rapidamente estacionamos e entramos no Terminal dois, Asa C. Acostumado com o ambiente mais “denso” no local, entramos na fila da Webjet (ou será Gol?), longa por sinal. Após 15 minutos na fila, chega a nossa vez; e a atendente avisa:
 
–Senhor! Aqui é só o despacho de malas.
–Mas não tem nenhum aviso sobre isso.
–O senhor talvez não viu o aviso por que ele estar escondido.
–Desculpe-me, mas o aeroporto dificulta a visualização dele.
— Para fazer o check-in, entre naquela fila, faça o check-in naqueles totens eletrônicos e depois venha direto despachar as suas malas, se possuir.
 
Entro na fila, faço o check-in e volto lá para despachar as malas. Não era eu o passageiro, mas a minha avó é muito distraída com qualquer coisa. Resolvo tudo e vamos para o acesso ao portão do vôo dela. Terminada a choradeira da despedida, mais uma fila, dessa vez, a do estacionamento.
 
–R$7,50, senhor.
–Aceita débito?
–Sim, pode passar.
 
O carro não ficou estacionado nem 50 minutos, entre entrar e sair do estacionamento, mas esse é o valor da hora. Pagar esse valor num estacionamento pequeno para o aeroporto me faz pensar: “para onde vai essa gaita toda?”
 
Entre entrar e sair do aeroporto, para você se locomover com uma certa “rapidez”, você precisa andar igual à passista de escola de samba: se sacudindo igual um doido, pois o terminal é apertado. E não só andar assim no saguão, mas nas salas de embarque também. Falta de espaço para melhorar essa situação, não falta?
 
Metades das áreas dos aeroportos estão ociosas, ocupados por empresas falidas ou em “recuperação judicial”.
 
Os nossos nobres políticos têm dinheiro para poder voar entre suas mansões e Brasília. Mas será que o dinheiro desses impostos financia essas passagens?
 
Pense bem, distinto leitor. Pagamos muitos impostos (IPVA, IPTU, IPI, fora outros serviços e produtos), mas o retorno desse dinheiro é muito baixo. Mas o engraçado é que o Governo facilita o pagamento, mas dificulta as melhorias do serviço.
 
Vamos começar pelos terminais. Guarulhos levou 8 anos para ser adaptado de base aérea a aeroporto, justamente para desafogar Congonhas. No improviso, os vôos internacionais vieram “de brinde”. O Governo tinha um plano de expansão, mas do que adianta ter um plano se as coisas só funcionam quando há um “interesse pessoal” ou em emergência? Graças à burocracia ou mesmo à falta de vontade das autoridades. Por exemplo, os Terminais 3 e 4 eram para estar operando totalmente a partir de 1999. O que se vê é a terraplanagem, feita pelo Exército.
 
No estacionamento, a situação coisa fica mais preta ainda. Dependendo da ocasião, sem depender o horário, nem a calçada escapa, pois vira estacionamento. Ai de quem for pego no flagrante. Leva multa, sem desculpa nenhuma que o livre dela.
 
Não só em Guarulhos, que foi tomado como exemplo, mas a maioria dos aeroportos estão com o risco iminente de entrarem em colapso. Seja por falta de vagas ou de terminais, por exemplo, se ninguém fizer nada, a coisa vai ficar preta, literalmente.
 
Os nossos nobres políticos não perceberam ainda que nós, literalmente, pagamos o salário deles e colocamos todos eles no poder? O mínimo que poderia ser feito não é só melhorar as condições dos nossos aeroportos, mas no geral. Primeiramente, acabar com esses impostos abusivos. Viver está mais caro, e difícil.
 
Nossos aeroportos parecem formigueiros, por pura “burrice” dos “representantes” do povo. Mas você já notou que quando eles estão insatisfeitos com os serviços, por mágica apenas esses serviços são melhorados. Por que será?
 
E, ainda, iremos receber a copa do mundo em 2014 e as olimpíadas em 2016. Estaremos preparados para um mega evento como esse?
 
Será que, realmente somos a sexta economia mundial, conforme noticiavam os sites da internet, ontem logo após o dia de natal? Ou seria apenas mais uma ambiguidade tupiniquim dessas que costumam menosprezar o país do futebol?
 
Não estou pedindo nada demais, só estou querendo não precisar pagar duas vezes por um mesmo serviço nada de acordo com o que é oferecido. Chega de ver reportagens onde o Brasil é ridicularizado. Quero um dia olhar para trás e ver que sou brasileiro, não um idiota.
 
Vamos citar mais um exemplo: suponhamos que eu seja um turista europeu, acostumado com a educação européia, querendo saber como pegar um táxi, por exemplo. Eu espero encontrar um atendente que fale um inglês no mínimo perfeito. Eu não espero encontrar um inglês a La Joel Santana. Apesar de ser um mero detalhe, é constrangedor uma situação dessas.
 
Outro exemplo: acostumado com a educação, espero encontrar neste atendente cordialidade, não uma pessoa mal arrumada, mascando chiclete, olhando pra tela do computador com aquela cara de funcionário público e agindo como se fosse um grande favor dar uma informação.
 
A desculpa do governo que se as empresas caírem nas garras (sic.) do capital privado, os serviços não poderão ter controle é falsa. Você compraria 50% de uma casa ou um carro, por exemplo, tendo que dividir com um desconhecido? Eu não consigo me imaginar com um aviso na porta do banheiro escrito “apenas com hora marcada”, dividindo minha casa ao meio.
 
“Paga-se  caro e o serviço é fraco”. Não estou pedindo nada impossível, apenas desejo que os serviços sejam “BBB” (Bom, Bonito e Barato). Se as empresas fossem todas privadas e competidoras, as coisas seriam muito mais fáceis. Cansei de ver a Infraero e a Anac prometendo o mundo e o fundo e não cumprir nada. Se os serviços fossem privados, muita coisa mudaria, talvez para pior, talvez para melhor.
 
Em minha opinião, outra desculpa para não autorizar o capital privado é que não se sabe quem vai prestaria esses serviços, e se vai cumprir o contrato de concessão.Desconhecidos nós vemos, mas seus costumes não sabemos. Estamos no século 21, ano de 2011. Mas às vezes eu acho que estamos no mínimo uns 500 anos atrasados, isso sendo otimista.
 
Querido político, secretário, ou seja, o que for, se vossa senhoria vier a ler esse artigo, lembre-se que a algumas décadas atrás, inventou-se uma coisa chamada edital, um documento com as exigências necessárias. Faça as exigências e pesquise a empresa candidata a prestadora de serviços. Não se deve ter uma escolha de, por exemplo, “a empresa x estava mais ao alcance”, como no caso do “puxadinho” em Guarulhos, mas pelo serviço que a candidata irá prestar, e por sua reputação.
 
Infraero e Anac, ajam rápido. Se houver alguém de fibra nesses órgãos e com boas intenções de preferência, apareça. Nada de um Marimbondo de Fogo de jaquetão a um playboy alagoano caçador de marajás. De um professor da Sorbonne “mulatinho” a um sapo-barbudo-metalúrgico do ABC. Muito menos um Controlador de Vôo metido a ministro humilde. 2012 está aí.
 
Temos dois anos e meio para no mínimo melhorar as condições aeroportuárias para no mínimo agüentar a Copa. Mas sem remendos, que sejam feitas obras completas e eficientes. Feliz Ano Novo e bons voos.
Alexandre Sales
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