Antonov An-225: O Ilustre Visitante

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No último dia 14 de novembro, pilotos e entusiastas do Brasil inteiro mobilizaram-se em torno de um fato há muito aguardado: a nova passagem do Antonov An-225 por aeroportos brasileiros. E não é para menos: literalmente, não é todo dia que a maior aeronave do mundo vem agraciar os nossos céus. Devemos a visita a uma nobre missão: levar ao Chile um gerador de 155 toneladas, destinado a abastecer a cidade de Nehuenco após um incêndio em um transformador similar. E quando se trata de uma aeronave com seis motores, 84 metros de comprimento, 18 metros de altura e 88,4 metros de envergadura, até quem não é muito ligado em aviação acaba por ficar curioso com este momento. Mas que avião é esse, e por que é tão especial? Aproveitemos então o ensejo para falar um pouco sobre o nosso ilustre visitante.

O Antonov An-225 “Mriya” (que significa “sonho” ou “inspiração” em ucraniano) foi construído em 1988 com o objetivo de transportar o ônibus espacial Buran, em uma época onde a Guerra Fria e a Corrida Espacial inundavam os noticiários mundiais. Com o fim da Guerra Fria, a queda da União Soviética e o insucesso do programa espacial russo, o An-225 amargou um longo período de oito anos de inatividade. Passado esse período, a aeronave foi reformada e passou a ser utilizada pela Antonov Airlines, para o transporte de cargas excessivamente pesadas.

Não é exagero falar sobre o An-225 no singular: de fato, apenas um exemplar foi fabricado, e permanece em operação até hoje. Um segundo exemplar chegou a ter sua produção iniciada, porém, comenta-se que esta unidade foi apenas 70% concluída. Há um acordo assinado entre a Ucrânia e a China pela conclusão desta segunda unidade, mas muitos acreditam ser pouco provável que esta segunda montagem se consume, por conta dos constantes conflitos entre Ucrânia e Rússia.

Apesar de sua utilização no transporte de geradores, peças de usinas hidroelétricas e similares, suas utilizações são das mais variadas possíveis. Já houve ocasiões em que o An-225 transportou mantimentos para tropas americanas no Oman – algo impensável na década de 1980, quando o avião foi construído, e Rússia e Estados Unidos eram países de grande rivalidade. Houve também ocasiões em que o An-225 foi utilizado na logística de causas humanitárias, quando grandes quantidades de mantimentos são necessárias pra atender um grande número de desabrigados, como é o caso de catástrofes de maiores proporções.

Do ponto de vista dos pilotos, muitos certamente sonham em assumir os comandos desta aeronave singular. No entanto, não é por haver apenas uma unidade que esta é uma tarefa para poucos: exigindo uma tripulação técnica de 6 integrantes para ser operado, entre pilotos e engenheiros de voo, o An-225 tem uma distância de decolagem de aproximadamente três quilômetros, o que deixa pouca margem para erros nos pouquíssimos aeroportos em que é capaz de operar. Felizmente, aeroportos como Guarulhos e Viracopos, no estado de São Paulo, são capazes de comportar o gigante dos céus, dando aos brasileiros a oportunidade de presenciar visitas históricas como a que ele acaba de nos fazer, deixando uma expectativa por uma eventual nova visita. Veremos novamente o Antonov An-225 em solo brasileiro? É aguardar para ver.

Luiz Cláudio Ribeirinho
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