Arremeter, ou não? | Minha Proa: 064

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Principalmente quando o orgulho está em jogo, a segurança precisa falar mais alto.

Em certo ano fomos convidados pelos nossos amigos da Looping, uma escola de aviação leve de Atibaia/SP, a ir voando com eles para o Domingo Aéreo, o evento anual da Academia da Força Aérea.

No dia em questão iríamos em aeronaves diferentes, mas após um dos pilotos ter ficado impossibilitado de comparecer, Cobel e eu fomos agraciados com a oportunidade de irmos voando na mesma aeronave. Esse foi o grande plot twist da história, mas ainda não é o ponto principal.

O voo de ida, o evento e o retorno foram como planejado: marcantes para nossa história, como deveriam ser. Afinal, não é todo dia que se pousa na Academia da Força Aérea.

Retornando para a Terminal São Paulo, ingressamos no circuito de Atibaia para pouso. No retorno, o vento havia mudado, e com ele, a cabeceira que seria utilizada para o pouso.

Devido à predominância dos ventos, a cabeceira 02 é a que normalmente fica ativa na maior parte do dia – o que acaba nos ajudando, pois é a que possui a aproximação mais livre. A cabeceira oposta, 20, por outro lado, possui uma pequena elevação e um hotel próximos de seu alinhamento.

Apesar de ter voado várias vezes no aeroporto, incrivelmente nunca havia pousado na 20 me aproximando pelo setor dos ultraleves, como faria pela primeira vez naquele dia. Mas apesar de ser uma experiência nova, não há o que temer. Afinal, as regras de tráfego aéreo não mudam em nada, e para quem pousou e decolou pela primeira vez em Pirassununga, pousar em um aeroporto conhecido não é nada de mais.

No entanto, na vida nem tudo são flores. Após ingressar na perna base, e curvar para a reta final, percebo que julguei mal tanto o vento predominante, quanto à capacidade de planeio do ultraleve, e me encontro alto na rampa de aproximação, além de levemente desalinhado com a pista.

Implícito na minha decisão do que fazer em seguida, estariam alguns pontos relacionados ao orgulho. Ao meu lado estava meu amigo Cobel, que estava voando pela primeira vez comigo. Já em solo, estavam nossos amigos que nos convidaram e emprestaram a aeronave, e certamente estavam nos aguardando pousar, com olhos atentos. Arremeter, justo no final desse dia tão marcante para nós, não seria a coisa mais agradável de se fazer.

Eu poderia glissar, dar full flap, ou até recuperar altura e tentar uma aproximação 360. Tudo mostraria inclusive minha habilidade em saber corrigir uma aproximação desestabilizada. Mas, apenas em nome do orgulho, valeria a pena?

“Vamos arremeter” – Disse eu enquanto completava novamente a potência, para realizar a primeira arremetida que faria fora de uma aula de voo.

Fizemos um novo circuíto de tráfego, uma nova aproximação, e um pouso seguro.

Minha auto estima não foi afetada, o Cobel não se sentiu inseguro durante o procedimento, e após o pouso, nossos amigos apoiaram a decisão que presenciaram.

Na dúvida, coloque o orgulho para trás, e a manete para a frente.

Alexandre Sales
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