Formando-se piloto, um dia de cada vez

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Todas as vezes que verifico – e à medida que possível respondo – aos questionamentos de nossos leitores em nossa fanpage no Facebook, uma das dúvidas que mais vejo voltar à baila é sobre o custo TOTAL da formação aeronáutica. Frequentemente recomendamos o e-book gratuito de nosso amigo Raul Marinho, “Como tirar brevê e quanto isso vai custar”, disponível em seu site “Para Ser Piloto” e na Plataforma PerSe de Auto-Publicação. Mesmo assim, a questão parece tirar o sono de muitos aviadores. Mas afinal, como lidar com essa dúvida, e dar-lhe o devido peso em nossas decisões?

É preciso reconhecer que a formação completa de um futuro piloto comercial envolve inúmeros investimentos: cursos teóricos e práticos de PP e PC, treinamento em multimotores, IFR, Certificação ICAO, adicionais como Jet Training, RVSM, PBN, um eventual curso superior em Ciências Aeronáuticas… Tudo isso demanda muito capital, não há dúvida. Mas antes de falarmos em valores – e principalmente, na soma de todos eles – vamos analisar como esse cálculo precisa ser feito.

Primeiramente, é preciso entender que não há como estimar, com precisão de centavos, o valor exato de uma formação aeronáutica. Como frequentemente comentamos, inúmeros fatores influenciam no custo de sua formação. Entre eles, o local escolhido para as formações teórica e prática, e o tipo de aeronave escolhida, estão entre os exemplos mais evidentes. Voar uma aeronave de trem de pouso convencional nas regiões norte e nordeste do Brasil, por exemplo, certamente não terá o mesmo custo de voar uma aeronave triciclo nas regiões sul e sudeste. Alojar-se num aeroclube distante ou dispor de uma escola próxima de casa também pode impactar consideravelmente a soma final de investimentos. E há ainda os custos que oscilam ao longo do tempo de sua formação, como por exemplo, o preço dos combustíveis aeronáuticos.

Entendendo esses primeiros aspectos, vemos que não se trata de uma questão de números. E isso se torna ainda mais evidente se entendermos que uma formação aeronáutica, assim como qualquer outra formação, é um investimento feito em longo prazo. Mesmo quem busca uma formação mais tradicional, como uma faculdade, dificilmente se preocupa em multiplicar o valor da mensalidade pela quantidade de meses do curso – algo em torno de 48 meses, quando se fala numa faculdade de quatro anos ou oito semestres, por exemplo. O investimento é geralmente pago ao longo dos anos do curso, e não de uma vez só ao seu princípio, daí não ser comum haver a preocupação imediatista de quitar um curso inteiro ainda na época do vestibular.

É bem verdade que imprevistos podem ocorrer ao longo de sua formação, impedindo-o de seguir investindo nela. Mas a vantagem da formação aeronáutica sobre as outras formações é que ela vem frequentemente associada à palavra “sonho”. E mesmo se algo lhe forçar a ficar em solo por algum período, seja ele longo ou curto, dificilmente seu sonho de se tornar piloto deixará de existir. Não seria o caso de considerar, portanto, que qualquer percalço ao longo de sua formação será apenas uma escala em direção ao seu objetivo?

Por fim, proponho uma reflexão que costumo fazer de forma mais bem-humorada: imagine se nossos pais tentassem calcular, na ponta do lápis e na precisão da vírgula, o custo de criar um filho, desde o primeiro dia na maternidade até o último dia numa faculdade. Será que, após verem o montante total dessa soma, eles ainda optariam por nos trazer ao mundo?

Viva um dia de cada vez, comando. Voo após voo, aula após aula. Mesmo quem já conta com todo o capital desde o princípio, seja por planejamento ou apoio familiar, dificilmente o investirá todo de uma vez só, sem saber o que pode acontecer ao longo dos anos de sua formação como piloto. Conforme a própria aviação nos ensina, mudanças ocorrem ao longo de nossas navegações. E se temos bem definido onde queremos chegar, devemos estar sempre preparados para efetuar ajustes em nossa rota.

Abraços!

Luiz Ribeirinho

Luiz Cláudio Ribeirinho
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