Atualmente posso dizer que minha vida profissional é minha vida pessoal. Isso é algo positivo em 99% das vezes, mas sempre há aquele 1%.
Não é surpresa dizer que a aviação, desde sua formação até seu mercado de trabalho, é algo atípico. Não é uma formação técnica, não é (necessariamente) uma formação superior, e suas Classes e Tipos são divisões únicas. Igualmente atípica é a vida de alguém como eu, que ingressou na aviação desde jovem.
Imagine um amigo seu que não saiba ao certo qual profissão seguir. Ele termina os ensinos Fundamental e Médio. Em seguida, faz alguns cursos técnicos para trabalhar em profissões secundárias, apenas para pagar as contas. Nesse meio tempo, resolve fazer cursos paralelos, como inglês, informática, e outros ligados a hobby, como culinária. Interessado em uma profissão qualquer, ele começa uma faculdade, mas tranca depois de alguns meses por não ser aquilo que imaginava. Tenta outra, mas também muda de ideia. Até que na terceira, gosta do que vê e segue nesta carreira.
Nesse meio tempo muitos anos se passaram, essa pessoa conheceu diversos grupos sociais, participou de várias turmas, projetos, e fez amigos de mais variados interesses, o que o torna uma pessoa muito bem sociabilizada independente do meio onde esteja.
Comparemos essa modo de evolução com meu caso pessoal, que com meu conhecimento atual, também posso dizer que é o mesmo de muitos outros jovens que, desde tenra idade, decidiram ingressar na aviação.
Interessei-me pela aviação aos 13 anos, e ainda no ensino fundamental, decidi que desejaria seguir nesse meio. No último ano do ensino médio, ainda firme com a ideia, iniciei minha formação de PP. Assim como a maioria dos adolescentes, tinha tempo de sobra em minha rotina, mas queria me focar unicamente em atividades que fossem de algum modo me auxiliar na aviação. Meu curso de inglês foi um bom exemplo, o qual realizei não pensando em viajar ou ver filmes sem legenda, mas sim por saber que esse idioma seria necessário na aviação.
Após o final do ensino médio, acabei perdendo o contato com boa parte dos meus amigos de lá, e com o passar do tempo os fui substituindo por novos amigos que fiz naturalmente na aviação, seja no curso teórico, ou no aeroporto durante o curso prático.
Com o início do Canal Piloto, e todos os projetos paralelos que realizamos através dele, minha lista de amigos e contatos cresceu ainda mais. Não me lembro da última vez em que fui a um aeroporto ou evento de aviação, sem que algum conhecido ou fã do Canal Piloto me parasse para conversarmos.
Hoje sei que se eu desejar fazer um voo por lazer no próximo final de semana, tenho alguns amigos com os quais posso voar, e alguns deles até me emprestariam a aeronave (eu mesmo ainda me impressiono com isso).
Mas por que dei tanta ênfase a esse lado positivo da aviação? Pois sempre há o contraste.
Por mais proveitosa que seja minha vida com a aviação, há sempre o fator “a grama do vizinho é sempre mais verde”, através do qual é notório o efeito do principal interesse de seu grupo de amigos ser a aviação.
Doctor Who, cultura Nerd, Cinema e História. Esses são alguns de meus interesses paralelos, os quais acabo tendo apenas a internet para exercitar. Por vezes lancei alguma citação ou referência aos meus amigos, que ficaram apenas com uma cara de “Allons-y? De onde ele tirou isso?”.
A ideia para esse conto de hoje veio de uma situação que vivi este fim de semana. Um esperado filme de ação está em cartaz, e queria convidar algum amigo para irmos assistir juntos no cinema da cidade. Amigos não faltam, mas a maioria deles vive em outras cidades-polo de aviação. Já eu estou isolado aqui no litoral do estado, me deixando solo para qualquer atividade que não envolva a aviação.
Eu poderia tentar associar isso antes ou depois de algum voo, ou ir importunar o Cobel que mora na cidade vizinha, mas tudo isso anula a comodidade do simples ato de ir no cinema da cidade.
Provavelmente vou esperar esse filme sair no Serviço Vermelho de Streaming, e assistir no ônibus… no caminho para o próximo voo!
“Teria sido melhor ir ver o filme do Pelé” (essa é fácil)
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