A formação aeronáutica traz em si algumas características fascinantes e ao mesmo tempo intrigantes. Diferente de um curso para habilitação de motorista, por exemplo, o aluno tem a missão de voar solo algumas vezes, mesmo não possuindo ainda sua licença de piloto. Seria comparável a deixar o aluno motorista dar uma volta sozinho pelo bairro, antes mesmo de possuir sua carta de motorista. Pode parecer estranho aos olhos mais leigos, mas é um exercício fundamental para a construção da confiança dos futuros pilotos.
Como podemos imaginar, voar solo é algo que exige imensa responsabilidade por parte do aluno. Afinal, sob o seu comando estará um equipamento de alguns (muitos) milhares de Reais. Logicamente, é obrigatório que a aeronave esteja segurada. Mas como pudemos ver em nosso vídeo desta semana, o seguro não isenta o aluno de responsabilizar-se pela aeronave, nem de ressarcir o proprietário pelos danos caso um eventual incidente ocorra, comprovadamente, por falha sua.
Pensando nisso, podemos nos perguntar: como um aluno deve se precaver para não ser responsabilizado por um eventual incidente? Vejamos alguns pontos que podem ser de grande ajuda:
Seja criterioso na inspeção pré-voo
O assunto já foi abordado diversas vezes aqui no Canal Piloto – inclusive, em um vídeo que fizemos exclusivamente sobre o tema. Entretanto, não custa relembrar: uma boa inspeção pré-voo é fundamental para evitar surpresas durante o voo. Uma simples desatenção ao verificar o combustível, por exemplo, pode levar a uma pane seca, causando danos pelos quais o aluno pode, sim, ser responsabilizado legal e financeiramente.
Conheça seu espaço aéreo
Neste caso, o maior enfoque não é propriamente uma avaria na aeronave, mas um problema igualmente sério, pelo qual o aluno pode ser responsabilizado: uma infração de tráfego aéreo. Ao ignorar o espaço por onde voa, o aluno pode ingressar em uma área controlada sem a devida autorização, ou interferir no tráfego de aeronaves comerciais – até mesmo de linha aérea! E dependendo da infração, a multa pode ser até mais custosa do que uma avaria simples.
O taxi também é parte do voo
Também já falamos aqui, em outra ocasião, sobre a importância das centerlines. E ela também deve ser levada em conta nesta abordagem. Abalroar outra aeronave durante o táxi, por desatenção ou negligência, é uma falha de inteira responsabilidade do aluno. Acha que sairia caro bater em um carro importado? Experimente bater em um jato executivo…
Voe conforme o padrão
Um bom piloto não é aquele que faz as mais mirabolantes das manobras, como por exemplo a perigosa decolagem americana. Diferente disso, o bom piloto é aquele que consegue se manter o mais aderente possível a um voo padrão. Não seria exagero dizer que um bom piloto busca voar com a precisão de um piloto automático. Prefere manobras audazes? Melhor deixar para praticá-las na aviação acrobática. Se fazer malabarismos nas ruas já está longe de ser um exemplo de prudência, imagine as consequências da mesma prática em uma aerovia ou corredor visual.
Nunca estamos isentos de sermos responsabilizados por um incidente aeronáutico, mesmo sendo simples alunos. Nossa experiência pode até ser limitada, mas nossa responsabilidade jamais. Desde o começo, nossos ombros precisam ser capazes de carregar o peso de quatro faixas. E se somos tão responsáveis quanto um Comandante ou não, somente nossas atitudes podem dizer.
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