De todos os filmes já produzidos envolvendo conteúdo aeronáutico, “Whisky Romeo Zulu” é talvez um dos que mais deveriam ser considerados obrigatórios a todos aqueles que pretendem, um dia, tornarem-se pilotos. Altamente impactante e baseado em fatos reais, o filme chama a atenção pela ousadia com a qual foi produzido: antes de dedicar-se à sétima arte, o ator e diretor Enrique Piñeyro, responsável por dirigir e protagonizar a película, foi também investigador de acidentes aeronáuticos e comandante da LAPA Airlines, empresa argentina onde ambienta-se a trama do filme.
Apesar das substituições de nomes visando proteger a privacidade de reais envolvidos, Piñeyro toma a visível iniciativa de interpretar a si mesmo, em eventos que precederam o trágico acidente envolvendo o voo 3142 da LAPA Airlines. Ocorrido em 31 de agosto de 1999 na cidade de Buenos Aires, o acidente vitimou passageiros e tripulantes do Boeing 737-200 de prefixo LV-WRZ, além de duas pessoas em solo, causando a morte de 65 pessoas. Na vida real, os laudos finais de investigação apontam um erro do piloto como a principal causa do acidente. O filme, no entanto, traz uma visão bastante diferente sobre os fatos: a visão de um piloto e investigador que, por haver presenciado de perto o dia-a-dia da companhia, leva seus espectadores a conclusões bastante diferentes sobre as causas do desastre.
Por vezes classificado como documentário, “Whisky Romeo Zulu” mostra a condição precária de manutenção com que voavam as aeronaves da LAPA Airlines: alarmes falsos soando constantemente, instrumentos inoperantes, e ainda por cima, pilotos sendo coagidos a trabalhar sem férias por longos períodos. A desesperada tentativa de estabelecer uma companhia de baixo custo, em um país com economia deficiente, leva os dirigentes da empresa a negligenciar, cada vez mais, as normas de segurança impostas por órgãos reguladores e fabricantes de aeronaves. Até quando poderia a empresa seguir flertando com o limite do aceitável, arriscando a vida de seus tripulantes e passageiros? A que ponto chegamos, para que a receita de uma empresa tenha maior valor do que vidas humanas?
Mesmo sendo produzido na Argentina, sem a infra-estrutura e divulgação de Hollywood, “Whisky Romeo Zulu” apresenta ótima qualidade cinematográfica e bom roteiro. Todos os detalhes técnicos exibidos no filme são absolutamente precisos e corretos, graças à experiência de seu diretor e ator principal como comandante de linha aérea. A temática é de fato triste, como sugere o sub-título do fime: “volar no es lo que soñaste” (“voar não é o que você sonhou”). Ainda assim, ela serve de sério alerta a todos aqueles que pretendem tornar-se aviadores com ética, como abordamos no CP Cast 52 – Ética na Aviação. E para os espectadores brasileiros, há ainda o atrativo das cenas gravadas no Rio de Janeiro, no simulador de voo de nossa saudosa VARIG.
Abaixo, você confere o trailer do polêmico filme, que rendeu prêmios e o título de “Michael Moore da Argentina” ao seu diretor:
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