História das Companhias Aéreas – Capítulo 90

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Localizada no centro da Europa Ocidental, a Suíça é um pequeno país com pouco mais de oito milhões de habitantes. Suas dimensões, no entanto, podem enganar quem acredite que pequenos países possuem apenas pequenos feitos. A Suíça ocupa as mais altas posições nos rankings mundiais de transparência governamental, liberdade civil, competitividade econômica e desenvolvimento humano. Sua histórica neutralidade armada manteve-a fora de conflitos como as duas Guerras Mundiais, permitindo-lhe atravessar esses conturbados períodos de forma relativamente estável e tranquila. A Suíça, inclusive, é o país de origem da Cruz Vermelha, uma instituição humanitária responsável, entre outras coisas, pelo resgate de feridos em conflitos armados, independente do lado pelo qual esses estejam lutando. Além de produzir os melhores chocolates do mundo, os relógios mais precisos e os tradicionais queijos suíços – famosos mundialmente pelos buracos resultantes do seu processo de fabricação – a Suíça também é conhecida pelo seu sólido e sigiloso sistema bancário, que atrai investidores de todos os países.

A solidez financeira também foi característica da Swiss Air, a linha aérea que voou como companhia da bandeira da Suíça por 71 anos. Não por acaso, a Swiss Air também era constantemente chamada de “Banco Voador”. A companhia foi fundada em 26 de Março de 1931, como uma fusão da Ad Astra Aero e da Balair, companhias de menor porte que, inclusive, tiveram curta existência. Após utilizar os aviões de suas companhias predecessoras, a Swiss Air adquiriu duas aeronaves Lockheed Orion, sendo a segunda companhia aérea européia a adquirir aeronaves americanas, atrás apenas da CSA, a companhia aérea da República Checa.

A ascenção da Swiss Air teve início em 1947, quando a companhia adquiriu aeronaves Douglas DC-4 e Convair 240, iniciando voos para Nova Iorque, África do Sul e América do Sul. A era dos jatos viria em 1960, com a introdução do Douglas DC-8 e do Sud Aviation Caravelle, em tempos onde os competidores da Swiss Air preferiam substituir suas aeronaves a pistão por turbohélices, como um passo intermediário para a transição para motores a reação.

Graças à neutralidade política da Suíça e à sua posição geográfica, a Swiss Air possuía autorização para voar a destinos exóticos no Oriente Médio, além de lucrar consideravelmente com os voos europeus de conexão. Foi assim que, a partir da década de 1960, a companhia construiu sua reputação de “Banco Voador”. A estabilidade financeira da companhia seria ameaçada apenas em torno do fim da década de 1970, quando a desregularização da aviação européia permitiu que companhias mais modernas e de menor porte disputassem o mercado já explorado pela Swiss Air. A competitividade da companhia viu-se ainda mais prejudicada quando a Suíça decidiu não incorporar a Zona do Euro, de forma que as passagens da Swiss Air não poderiam ser comercializadas na moeda mais utilizada na Europa Ocidental.

Na década de 1990, a Swiss Air tentou reverter a situação adotando a “Estratégia do Caçador”, um plano que visava fusões com diversas outras companhias para manter o posicionamento no mercado europeu. A estratégia, que visava inclusive a aquisição de cotas das companhias brasileiras TAM e Transbrasil, provou-se equivocada com o tempo e levou a Swiss Air a ter suas contas auditadas, revelando um prejuízo de difícil reversão. Somando-se os prejuízos causados à aviação mundial com o atentado de 11 de Setembro de 2001, não sobraram alternativas à Swiss Air senão encerrar suas operações.

No dia 1 de Abril de 2002, o último de todos os voos da Swiss Air decolou de São Paulo com destino a Zurique. Assim que pousou em seu destino, o voo SR145 encerrou uma história de 71 anos de serviços prestados com excelência à aviação mundial. A Swiss International Air Lines, companhia que viria a assumir os ativos e serviços da Swiss Air após sua falência, foi por fim adquirida pela Lufthansa, em 2005.

Luiz Cláudio Ribeirinho
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