Qual foi a reação de sua mãe quando você disse que queria gastar uma fortuna para aprender a pilotar, em aviões de instrução muito mais velhos que você? Hoje, Dia das Mães, conto a vocês minha história.
O objetivo de se tornar piloto é um impacto sobre todos ao seu redor. Os amigos o consideram um grande desafio, os pais querem saber principalmente quanto essa brincadeira vai custar, mas são as mães as responsáveis pela famosa frase:
– Mas menino, isso não é perigoso!?
Eu decidi me tornar piloto aos 13 anos, e como em minha época a idade mínima para começar a voar era de 17 anos, eu tinha 4 anos para convencer minha mãe de que aquilo não era uma ideia de maluco.
Assim como a de muitos outros, minha família estava longe de ter dinheiro para tal. Nunca tivemos carro, não viajávamos no fim de ano, e ter um videogame foi um presente que sempre sonhei mas nunca pedi, justamente por saber das nossas limitações. Caso eu conseguisse iniciar minhas aulas de voo, essa também seria a primeira vez que eu voaria, pois assim como toda minha família, eu nunca havia viajado de avião até então.
Devido à pesquisa que realizei sobre a formação, desde o início estávamos cientes de um fator crítico: só teríamos como pagar a primeira fase do curso, as 35 horas do curso de Piloto Privado, as quais eu levaria no mínimo 1 ano para voar devido a nossa limitação de renda. Após esse curso faltariam ainda 115 horas para eu me formar no segundo curso, o de Piloto Comercial – apenas após o qual eu, aí sim, poderia começar a trabalhar como piloto.
Era mais do que uma simples decisão: era um voto de fé, e a primeira a me apoiar foi minha mãe.
Como morávamos no litoral, e minha formação seria feita em São Paulo, eu teria sempre de sair no início da manhã e voltar apenas no fim da noite. Como eu ainda era menor de idade na época, minha mãe se recusou a permitir tais viagens, imaginando sempre o pior em uma cidade grande como São Paulo. Com isso, ela poderia ter finalizado meu sonho ali, ou tê-lo adiado por quanto tempo quisesse, e eu nada poderia fazer.
Ao invés disso, ela achou outra solução: decidiu me acompanhar em todas as viagens de ida e volta enquanto eu não completasse 18 anos, indo comigo nas subidas e descidas da serra, ficando na rodoviária, ou até no ponto de ônibus em frente ao aeroclube, enquanto eu passava o dia estudando em solo ou voando.
Deu certo. Eu consegui me formar com sucesso como Piloto Privado, e através do Canal Piloto consegui financiar o restante da minha formação.
Minha história tinha tudo para terminar antes mesmo de começar. Eu não tinha dinheiro, morava longe, e minhas chances eram praticamente mínimas.
Eu só pude seguir em frente porque, diante da primeira grande barreira, eu tive, e continuo tendo, o apoio de minha mãe.
Abraços,
Sales
- Voando de São Paulo ao Sul de anfíbio - 02/02/2024
- A automação acabará com os pilotos? - 02/09/2022
- Pilotos podem ter tatuagens? - 11/08/2022