Desde que ingressei na aviação desportiva tenho voado em ultraleves de amigos de conheci, mas melhor do que ganhar as horas de voo para a CIV, é ganhar a experiência de vida que esses novos amigos compartilham conosco.
Através das aulas particulares que disponibilizamos, conheci um amigo com o qual atualmente já fiz diversos voos, e que possui um história de vida que caracteriza bem um ato que faz toda a diferença na sua vida e dos que lhe rodeiam.
Apesar das aulas iniciais terem sido focadas na fonia, planejamento, e voos dentro das REAs da Terminal São Paulo, esse rapaz possui uma experiência prática riquíssima, pois décadas atrás possuiu alguns ultraleves quando voava em outros estados, com os quais colocou em prática sua paixão pela aviação durante os anos de sua atividade. Após ficar alguns anos parados devido a sua profissão, ele agora retornou aos ares, rechecando suas carteiras e adquirindo um novo ultraleve anfíbio.
Como a grande maioria dos integrantes da aviação desportiva, voar para ele é um hobby intercalado com uma paixão, a qual ele faz questão de compartilhar com os demais, o que décadas atrás o fez levar ao longo dos anos cerca de 300 pessoas para voarem em seus aparelhos. Crianças, adultos, senhores, amigos ou apenas conhecidos, conseguiram ter alguns minutos de felicidade a milhares de pés de altura graças ao ato de compartilhar aquilo que lhe fazia feliz.
Sempre que ouvimos histórias como essas, tendemos a acreditar que são costumes de tempos passados, e que como hoje o mundo está cada vez mais individualista, tal iniciativa dificilmente iria se repetir. Mas…
Após este amigo ter retornado para a aviação, rechecado, e recebido sua nova aeronave, um dos primeiros voos que fez foi passear em um fim de semana com sua família em uma represa que ficava próxima do aeródromo onde a aeronave estava hangarada. Ao verem uma aeronave pousar na água, em uma represa onde apenas lanchas e jet skis eram comuns, as famílias que passavam o dia ensolarado ali ficaram maravilhadas, principalmente as crianças.
Após seguir até a passarela de madeira que servia como atracadouro flutuante, logo duas crianças se aproximaram para admirar a aeronave, com um sorriso tão grande quanto a alegria em ver o equipamento. Eis que lendo o que a expressão delas não conseguia esconder, o então proprietário da aeronave novinha em folha, convida os dois garotos para entrarem no cockpit e aproveitar o momento. Se tivesse havido tempo livre naquele dia, não iria me surpreender se os dois fizessem um voo poucos minutos depois.
Assim como esses garotos, eu também fiquei surpreso com o convite para voar com ele, vendo que como nosso contato inicial foi apenas como aluno e instrutor teórico, e por ele ter bem mais experiência prática que eu, não havia nenhum motivo “prático” para o convite. Mas a boa vontade falou mais alto.
Assim como outros pilotos que conheci, este também me surpreendeu e sem duvidas me influenciou. Se um dia eu me encontrar na mesma posição, certamente não farei diferente.
Sales
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