Certas coisas estão no sangue… Ou não.
Em mais uma Brasil Game Show, meu amigo e eu fomos os responsáveis pela instrução no simulador de voo do X-Plane no evento. Centenas de pessoas passaram por lá durante os dias de feira, inclusive famílias inteiras que esperaram juntos na fila. Isso nos permitiu realizar um experimento social de oportunidade: a facilidade ou dificuldade em pilotar seria algo constante em todos os membros de uma família?
A primeira oportunidade ocorreu quando fui ensinar a um garoto com cerca de 10 anos, que estava com seus pais. Após a pergunta que eu fazia a todos, ele respondeu que sua experiência na aviação era zero, e assim comecei a explicar os comandos do Cessna 172 desde o básico.
Decolagem, voo ascendente, nivelamento, curva em descida, aproximação e arredondamento. O aproveitamento do voo foi surpreendente para alguém que, até então, nunca havia pilotado. Os comandos foram suaves, as curvas constantes, e o climb e horizonte artificial, que até então eram as maiores dificuldades do pessoal, ficaram sob total controle.
Após parabenizá-lo, ele saiu para dar lugar ao seu pai, o próximo que iria voar. Quando faço a mesma pergunta inicial para ele, sobre sua experiência, ele responde:
– Eu voo um 737 na linha aérea.
– Ah, isso explica muita coisa!
Em contraste a isso, pude notar uma dificuldade constante em membros de outra família, constituída pelos pais e dois filhos.
A primeira a voar foi a filha, com cerca de 9 anos. Ela tinha dificuldade em diferenciar esquerda e direita, não colocava em prática alguns dos conselhos durante o voo, e ficava brigando com a aeronave constantemente, sendo agressiva demais com o manche e pedais. Tive de auxiliá-la em diversas fases do voo, para a simulação não render um stall rumo ao solo. “Acho que ela só é nova demais” – Pensei.
Em seguida foi a vez de seu irmão mais velho, perto dos 12 anos. Surpreendentemente, com ele presenciei quase um Déjà-vu, pecando nos mesmos pontos que a irmã, mesmo tendo presenciado ela voando anteriormente.
Agora havia chegado a vez da mãe. “Agora vai!”… Mas não foi. E ela acabou tendo os mesmos imprevistos.
No final todos riram, se divertiram, e o pai da família acabou passando sua vez, ao ver como aquilo não era tão fácil.
Ao tocarmos no assunto, meu amigo também compartilhou um caso. Disse ele que também havia ensinado um garoto-prodígio, que pilotou muito melhor que seus amigos, apesar de nunca ter voado. Ao final, quando questionado sobre o assunto, ele disse que não, seu pai não era piloto… Mas seu avô voava um Lockheed Constellation! Explicado.
Entre famílias com ou sem o “dom”, durante os dias de evento presenciamos cerca de oito famílias que acabavam se definindo em um desses dois casos. Obviamente houve exceções, mas nada perto da esmagadora maioria que compartilhava seus genes aeronáuticos.
É claro que com treinamento, todos podem aprender a pilotar. Mas será que a facilidade em aprender a voar é genética?
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