O futuro da aviação de caça da Marinha do Brasil

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As aeronaves revolucionaram as operações navais e hoje se tornaram fundamentais para as esquadras do mundo inteiro. Inicialmente com missões de reconhecimento, com o passar do tempo se tornou um senso comum a utilização de aviões no combate naval, e a medida que os aviões e sua capacidade também aumentaram de tamanho, uma maior estrutura em terra firme se tornou algo essencial para tornar tudo possível.

Para a Marinha, um caça naval deve estar apto a participar da defesa aérea, patrulha e principalmente ataque naval em apoio ao mar, dentre outras tarefinhas. A Marinha do Brasil (MB), consciente de tal necessidade, mantinha em operação os Grumman S-2 Tracker, conhecidos como P-16 no Brasil. Porém, na guerra contra os submarinos isso não era suficiente. Seria necessário mais… muito mais.

Após o ministro da marinha interceder diante do governo, esclarecendo publicamente suas necessidades, finalmente em 29 de julho de 1996 iniciaram-se os estudos para escolher uma arma de interceptação e ataque. Coincidentemente, aeronaves A-4 KU da Força Aérea do Kuwait estavam à venda e atendiam as necessidades da Esquadra, além de terem capacidade de operar no então Navio-Aeródromo Ligeiro (NAeL) Minas Gerais. Logo o Falcão chegou ao Brasil.


Açor do mar

O pequeno McDonnell Douglas A-4 Skyhawk é um bombardeio leve, projetado especialmente para operar em porta-aviões. Com mais de 60 anos após o primeiro voo, continua sendo a principal estrela de vários países, como Israel, Kuwait e Vietnã. Com o uso de sua versão modernizada, tanto a armada quanto os da força aérea tiveram uma atuação de destaque. O Brasil adquiriu vinte unidades do modelo A-4 KU e três biplace, designados na Aviação Naval como AF-1 e AF-1A (biplace). Em 2001, com a baixa do NAeL Minas Gerais (A-11), eles então passaram a operar no Navio Aeródromo (NAe) São Paulo (A-12), ex Foch Classe Clemenceau, da Marinha Francesa.

Com a modernização dos F-5 E/F para o padrão F-5EM realizada pela FAB, a MB sentiu-se encorajada a efetuar algo semelhante com os seus AF-1. Muitos fatores dificultaram a modernização, um deles é o tamanho bem modesto do cockpit, assim como o nariz. Outra necessidade era a modernização dos motores que não havia sido realizado na aquisição, ou seja, era inadiável.

Mesmo com todos esses contratempos, em 2012 a MB fechou uma parceria com a Embraer para modernizar 12, de seus 23 Skyhawk até o fim de 2017, em um investimento total de U$ 140 milhões. Reformados, receberam novos sistemas de navegação, comunicação tática, sensores e armamentos. O Falcão e todo o seu sistema analógico passaram para a era digital, com capacidade para operar no mínimo por mais 15 anos.

A modernização do AF-1 é fundamental nesses próximos anos, mas algo que deve ser questionado: E a partir de então? Qual será o novo binômio caça naval do futuro? O nosso principal porta-aviões ainda é o São Paulo? Por quanto tempo?


Um marco do passado sem condições para o futuro

O NAe São Paulo entrou em operação já com 37 anos de serviços na Marinha Francesa, e cumpriu bem sua missão na esquadra brasileira, proporcionando a capacidade de operação de aeronaves de asa fixa e rotativa. Infelizmente, com inúmeros acidentes e após diversas tentativas de recuperação da capacidade de operação do NAe São Paulo, o Comando da Marinha decidiu que seria inviável e de altíssimo investimento financeiro sua modernização, fazendo com que ele ficasse inativo por um longo período. Um programa de aquisição de um novo porta-aviões teria um custo menor do que a modernização do São Paulo.

Manter um caça moderno, com pouso e decolagem convencionais e operá-lo com eficiência, significa para a nossa marinha a aquisição de um novo porta-aviões. Como todos sabemos, os freqüentes cortes orçamentários na defesa, fazem com que o programa de aquisição tenha um período muito longo para sua conclusão, além de elevados custos (alguém ainda se lembra do Programa FX?). Hoje, sem navio aeródromo, a marinha opera suas aeronaves de asa fixa e rotativas a partir do solo, na esperança de que no futuro o Brasil possa construir seu próprio.


Novas opções. Pilotos? Opcionais.

A Força Aérea Brasileira assinou um contrato com a SAAB para aquisição de 36 aeronaves de caça Gripen NG. De acordo com a FAB, o contrato visa a transferência de tecnologia, treinamento de pilotos, engenheiros e mecânicos brasileiros, juntamente com apoio logístico para indústrias nacionais.

Com isso, a MB deu um passo importante quanto ao seu projeto para reequipar a frota aérea. Visando essa aliança, é plausível que no futuro tenhamos a possibilidade de adquirir a mesma aeronave usada pela FAB para emprego naval, o Sea Gripen NG, trazendo consigo todos os chars desbloqueados pela FAB.

Enquanto isso sabemos que os sistemas de combate aéreo não-tripulados estão engatinhando. Entretanto, alguns protótipos já se encontram em estágio avançado, e as Marinhas mais poderosas não param de avaliá-los e considerá-los como o futuro naval.

Existem hoje mais de mil Veículos Não-Tripulados (UAVs) operando em combate, inclusive realizando operações de reconhecimento intercontinentais. O contraponto é que esses equipamentos ainda são bastante limitados com relação a capacidade de transportar sensores e armamentos pesados, mas as variantes que operam a partir de bases terrestres já apresentam tal capacidade.

Mesmo com essas e inúmeras outras limitações, há grandes vantagens que um ser humano nunca poderia proporcionar, mas que já são viáveis através da tecnologia avançada das aeronaves não-tripuladas. A disposição de permanecer horas em um cockpit apertado, a fadiga, o cansaço e as baixas em combate, são alguns dos problemas que somem ao se excluir o piloto da equação. Tudo isso faz com que os UAVs apresentem características com as quais podem superar os caças tripulados, paralelamente com baixíssima assinatura radar e maior autonomia total, além de uma excelente capacidade bélica.


Ideal vs Indispensável

Não gostaria que o leitor encerrasse esse artigo imaginando que a única salvação da Marinha do Brasil seria um caça não tripulado. O fato de haver problemas com nosso principal porta-aviões, e o detalhe de não haver cupom promocional de capital para o desenvolvimento necessário, faz com que essa realidade se encontre em um futuro muito, muito distante.

A necessidade da Marinha é modernizar seu atual caça, como já está sendo feito, e aumentar sua disponibilidade a um nível satisfatório. Mesmo com nosso problema orçamentário para comprar, manter e operar, precisamos resolver a ausência de uma aeronave embarcada juntamente com a manutenção de um navio-aeródromo, tradicionalmente falando.

Nossa necessidade sempre foi e sempre será priorizar não o melhor, mas sim o indispensável.


Tayly Vieira