O primeiro sinal da paixão pela aviação: parar involuntariamente tudo o que se está fazendo para ver uma aeronave passar. Quem nunca?
Todos os futuros aviadores compartilham uma história semelhante a essa.
Você está andando com um grupo de amigos na rua, e escuta ao longe aquele ruído ecoado que não lhe é estranho, até que você percebe que ele vem de milhares de pés acima de vocês. Após avistar a aeronave, você involuntariamente aciona toda a enciclopédia de aviação que possui em seu cérebro, analisando o número de motores, cores das carenagens, nível aproximado de voo, e todos os outros detalhes que consegue ver daquela distância. Com essas informações, você consegue saber não somente o modelo, mas até para qual rota de aproximação a aeronave está se dirigindo. Por alguns segundos você se sente realizado.
Quando a aeronave vai além do seu campo de visão, você volta à realidade, só para perceber que seus amigos estão lhe olhando com uma expressão estranha, se perguntando porque você começou repentinamente a andar olhando para cima, e diminuiu o passo, ou até mesmo parou, ficando para trás do grupo. “Esse rapaz tem problemas” – Pensam eles. É sempre estranho tentar explicar.
Caso você ainda não seja piloto, pode acreditar que esse costume é típico apenas dos sonhadores, aqueles que voam com os pés no chão, e que quando realmente forem voar, seja na escola de aviação ou em uma futura linha aérea, tudo isso será apenas rotina, e a mágica irá acabando aos poucos.
Na verdade esse é um costume que começa cedo, mas não acaba tão rápido.
Em um dia no qual eu estava em minha escola de aviação aguardando minha vez para voar, fiquei próximo ao pátio, observando o movimento e os outros alunos, que naquele instante faziam o check pré-voo. Eis que exaltando toda a música de seus motores, se aproxima pela taxiway um belíssimo jato executivo, que se dirigia ao ponto de espera da cabeceira em uso. Alunos, instrutores, apoio de solo, ninguém fazia mais nada. Durante 10 segundos todos pararam para admirar a beleza da aeronave, se imaginando um dia operando um daqueles.
A experiência prática aumenta, as faixas nos ombros crescem em número, e a aeronave também fica maior. Mas a mágica nos olhos ao ver uma aeronave passar continua a mesma.
Um Comandante de 737NG com incontáveis horas de voo. Foi com esse profissional que eu havia ido para uma escola de aviação gravar alguns materiais em vídeo, no hangar da escola. No meio da filmagem, interrompemos a gravação devido ao ruído do motor de um simples Cessninha de instrução que decolava. A aeronave passa pelo nosso hangar, e o silêncio reina novamente. Mas mesmo assim, o experiente Comandante ainda se mantém vidrado na pequena aeronave no eixo de decolagem ao longe. Com um sorriso no rosto, retorna para a realidade após alguns segundos, e solta:
– Que beleza de avião, hein?
No final, somos todos iguais.
Abraços,
Sales
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