A proposta foi tão boa, que naquele momento eu custei em acreditar.
Tempos atrás nós realizamos a gravação do nosso podcast sobre Aviação Desportiva, um assunto ainda novo para nós na época, mas que nos era cobrado frequentemente através dos leitores e ouvintes de nosso site.
Certo dia, um dos instrutores da Looping, uma escola de aviação leve sediada em Atibaia/SP, entrou em contato conosco, mostrando-se disponível para qualquer gênero de entrevista ou contribuição, citando ainda que poderia trazer outros participantes se fosse necessário.
O contato não poderia ter vindo em melhor hora, e pouco tempo depois marcamos o dia e horário da gravação, na qual estaria não apenas ele, Gladson Carneiro, mas também o proprietário da escola, Marcos “Paraíba”, e um de seus antigos alunos e atuais clientes, Eduardo Gomes, que havia aprendido a voar com eles, e agora mantinha sua nova aeronave hangarada na estrutura da escola.
Como você que já ouviu a conversa sabe, o programa não poderia ter ficado mais informativo, mas mal sabia eu que o melhor ainda estava por vir. Após o fim da gravação, Gomes, o proprietário de um Paradise Eagle com a pintura inspirada na Esquadrilha da Fumaça, me convidou para qualquer dia ir voar com ele em Atibaia.
Hoje admito que inicialmente havia encarado aquele convite como o famoso “Vamo marcá”, aquela iniciativa que a pessoa toma na hora, mas na verdade nunca volta para de fato consolidar o dia em questão. Eu tive essa impressão pois éramos completos novatos na aviação desportiva, e portanto eu não tinha motivos para acreditar que o ambiente dela seria diferente do ambiente dos aeroclubes e escolas de aviação homologada que eu conhecia.
Ao contrário do que muitos possam pensar, em um aeródromo onde se ensina a voar a aviação homologada (PP/PC), ou no qual se estacionam aeronaves da aviação geral, não é comum o convite para voar por mero lazer. Afinal, no caso da instrução, o gênero de voo impossibilita isso. No caso das aeronaves de empresas, a própria ética da mesma dificilmente permite, e quando há um proprietário de aeronave propriamente dito, normalmente ele compartilha seu voo apenas com os amigos de seu circulo social.
Ou seja, eu, depois de anos, receber um convite para voar “just for fun”, é o mesmo que alguém lhe parar na rua e perguntar se você não quer R$ 100 de presente. Você custa a acreditar.
Para minha surpresa, pouco tempo depois, o Gomes entrou em contato novamente via e-Mail, avisando que iria voar no próximo final de semana, e que estava reforçando o convite para eu conhecer sua aeronave, a escola e o aeródromo, o qual até então eu só conhecia via TGL.
Depois desse primeiro voo, muitos outros vieram, em sua aeronave e em outras da escola, e mesmo hoje possuindo um contato mais próximo com os frequentadores de lá, ainda me impressiono como, diferente da aviação homologada, a aviação desportiva ainda possui esse espírito elementar da aviação: o ato de compartilhar o voo apenas pelo simples prazer de voar.
- Voando de São Paulo ao Sul de anfíbio - 02/02/2024
- A automação acabará com os pilotos? - 02/09/2022
- Pilotos podem ter tatuagens? - 11/08/2022