Mas por que não voltar para ela?
Ao longo do tempo pude conhecer amigos que possuem aeronaves, em sua maioria ultraleves. Com isso, sempre que nossas agendas permitem, marcamos de fazer alguns voos, apenas por lazer, seja um bate-volta entre interior e litoral, ou alguns pousos em represas com aeronave anfíbia.
Quando compartilho tais momentos em minhas redes sociais, é comum eu ver algo amigos, que hoje já ingressaram na linha aérea, comentarem que sentem saudades dessa época onde voaram os pequenos monomotores.
Mas porque um PLA iria desejar “retroceder” em seu equipamento?
Muitos citam que sentem saudades em poder voar para onde quiserem, apenas por lazer, com a família ou amigos. São pequenas coisas que obviamente não são possíveis quando se tem centenas de passageiros atrás de sua poltrona. Mas se não gostam das rotas e do estilo de voo desse segmento da aviação, porque não migram para o táxi aéreo ou instrução, por exemplo? Bem, não é tão simples assim.
Imagine que a aviação de Linha Aérea é como o parque da Disney em Orlando. Durante toda sua infância você desejou ir pra lá, curtiu muito cada uma de suas viagens, e deseja que aquilo se torne sua rotina.
Após anos, você finalmente consegue um emprego lá, ótimo! Ele paga bem, e você pode sustentar sua família fazendo o que gosta.
Entretanto, sua nova função não permite que você ande em todos os brinquedos que deseja, e apesar de tentar planejar, você há tempos não consegue marcar um tour com seus amigos pelos brinquedos, como fazia antes.
O emprego tem suas vantagens e limitações. Mas sair da Disney? Jamais!
Essa lógica do “Valdisney” é a mesma aplicada nos diferentes mercados da aviação.
Para o piloto “X”, uma empresa de táxi aéreo de curto alcance seria o ideal, pois ele gostaria de dormir em sua própria casa sempre que possível, e ter mais folgas na escala, para voar por lazer quando quisesse. Entretanto, a diferença do salário entre o táxi aéreo e a linha aérea é relevante, e só através dessa segunda ele poderia prover para sua esposa e filhos o futuro que ele planeja.
Então, é apenas uma questão de dinheiro? E aquela história de voar apenas por paixão?
Boa parte dos pilotos compartilham a ideia de que o jovem que deseja ingressar na aviação, não o deve fazer pelo salário, e sim pelo desejo de trabalhar em uma área que gosta. Por outro lado, uma vez que ele esteja formado, a análise do mercado perante escala, salário e benefícios se mostra algo lógico. A remuneração nesse sentido não é um foco, e sim uma necessidade.
Cada escolha, uma perda. A aviação geral, infelizmente, nem sempre é uma escolha tecnicamente viável, deixando a linha aérea como a opção mais estável.
Ao ver um colega aproveitando os benefícios dos quais você sente falta, nada mais natural do que lhe desejar bom proveito, e dizer como sente falta do tempo em que era você quem visitava a Disney com brilho nos olhos.
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