A maioria das pessoas na aviação utiliza o chamado “nome de pista”, o nickname pelo qual decidem serem chamados. Em sua maioria, é o sobrenome que esta pessoa e seus familiares possuem. Mas como nem todo sobrenome é tão comum, isso acaba sendo garantia de altas confusões.
Diferente dos primeiros nomes, os sobrenomes acabam remetendo à sua árvore genealógica, que nem sempre tem início em nosso país, o que faz com que tanto a pronúncia quanto a grafia de tais nomes sejam quase um desafio.
Durante o meu PP, me deparei com o primeiro sobrenome diferente que conheci, o que desencadeou uma situação igualmente marcante. Após o briefing inicial, o INVA resolveu me passar seu celular, a fim de nos coordenarmos para o próximo voo que faríamos. Depois de marcar seu número em meu celular, eu pedi para ele me confirmar seu nome, o qual ainda não havia memorizado. Após escutar, escrevi em minha agenda como ele é pronunciado: “Zuco”. O INVA lê o nome com um olhar meio triste e diz:
-É… pode ser…
Apenas dias depois, vi seu nome escrito em um dos documentos do aeroclube, e lá estava: “Szucko”. Eu me senti como aqueles tradutores que escolhem os títulos brasileiros para os filmes da Sessão da Tarde.
Nos dias seguintes, coloquei em mente que por mais simples que o sobrenome possa parecer ao ser pronunciado, a grafia dele pode ser totalmente diferente. Apliquei isso na prática em um dos meus futuros voos de instrução, onde o instrutor se apresentou como “Abe”. Preferindo errar por excesso do que por falta, resolvi caprichar e escrever “Habbe”, mas para quebrar a regra que eu havia acabado de montar ele me corrige dizendo:
– Não não, é “Abe” mesmo.
Desde então preferi sempre perguntar como o nome se soletra, por mais simples que ele seja, inclusive quando fui voar com um instrutor que se chamava simplesmente “Pinha”.
– Como assim? Se escreve “Pinha”, ué. – foi a resposta do INVA.
A outra categoria de imprevistos diz respeito ao nosso (escasso) poder de memorização dos nomes. Certo dia eu seguia para Americana (SP), onde ia auxiliar nas gravações de vídeos em uma escola chamada “Sierra Bravo Aviation“, na qual o S e B eram as iniciais dos fundadores da escola.
– Quem iremos entrevistar para falar da escola? – eu perguntei.
– Vamos falar com o diretor, o Eberaldo.
– Eberaldo? Mas a escola não é SB? Onde fica esse E?
– Não, você deve ter ouvido errado, eu falei “Beraldo”
– Ahhh, agora faz sentido.
Após dois dias de gravações, retorno para minha casa para começar a editar os materiais. E qual não foi minha surpresa ao ver que, em mais da metade das vezes, acabei chamando o diretor da escola de “EEEberaldo”. A minha sorte foi que só ocorreram nos trechos que ficarão fora do corte final das filmagens.
Apesar da paciência e educação do Beraldo em não ter me corrigido, mesmo assim fiquei envergonhado por saber bem como é passar por isso, pois mesmo eu possuindo um sobrenome simples e de apenas 5 letras, Sales, ainda assim sigo sendo chamado ou escrito como Salles, De Salles, Salis, Sala e alguns novos a cada dia.
Já imaginou se o Arnold Schwarzenegger fosse piloto?
Abraços
“Sallyz”
- Voando de São Paulo ao Sul de anfíbio - 02/02/2024
- A automação acabará com os pilotos? - 02/09/2022
- Pilotos podem ter tatuagens? - 11/08/2022