Todo jovem possui um grande sonho de consumo. Porém, certos objetivos requerem sacrifícios.
Apesar de eu ter crescido em uma família com situação financeira estável, sem passar necessidades, nós também não podíamos jogar capital aos sete ventos. Portanto, eu sempre estive ciente de que não poderia sonhar com presentes muito caros, em todos os meus aniversários e natais.
Eu passei meu ensino fundamental na década de 2000, época na qual começou a se tornar acessível o computador e a conexão (discada!) à Internet. Além desse novo equipamento que começava a se popularizar, havia outro item de entretenimento que também era alvo de desejo, e até mesmo de idolatria dos que o possuíam: o vídeo game.
O Playstation 2 era o lançamento mais recente daquela geração. Possui-lo era também o grande diferencial e símbolo de status dentre aquele grupo de amigos – vendo que, como eu, nem todos poderiam arcar com aquele tão desejado sonho de consumo.
No auge do ano de 2004 de Nosso Senhor, minha família me comunica que poderá finalmente arcar com um presente mais caro para meu aniversário de 12 anos. Os pais, com capital limitado e com espírito controlador, poderiam simplesmente tomar a decisão pelo filho e escolher o mais lógico, o computador, vendo que diferente do vídeo game, este poderia também auxiliar nas pesquisas escolares.
Diferente deste estereótipo, a decisão foi jogada para minha pessoa, e eu poderia então escolher entre uma garantia de jogos e entretenimento, ou outro equipamento que seria utilizado basicamente para navegar pela Internet em uma velocidade de 14 Bis, vendo que por não ser o melhor de sua categoria, talvez não pudesse suportar os melhores jogos.
Ainda com um fundo de arrependimento e resistência, escolhi o computador. Tal como era o Batman para Gotham City, não era o equipamento que eu merecia, mas era o equipamento de que eu precisava.
O tempo e outros aniversários se passam, e eu ainda sigo apenas com o computador, até que um dia sou agraciado novamente com a possibilidade da compra de meu vídeo game. Dessa vez, ao menos no conhecimento de meus pais, não havia nenhum outro concorrente para este sonho.
Entretanto, dentre os únicos três jogos que comprei para meu computador, estava o B-17 Flying Fortress, um simulador de combate aéreo da II Guerra, o qual despertou o sonho da aviação no meu caso. Através de minha Internet mega rápida, eu também já havia começado a pesquisar sobre o processo para me tornar piloto, e apesar da carência de detalhes sobre essas etapas até então, um fator se mostrava certo desde já: não seria nada barato.
Para a surpresa da minha família diante da possibilidade de um novíssimo vídeo game, minha resposta foi negativa, e expliquei pela primeira vez os detalhes da minha decisão em me tornar piloto.
A melhor maneira de ganhar dinheiro é parar de gastar, e assim eu fiz.
Até hoje eu nunca tive nenhum console de vídeo game, e ainda sonho com isso. Mas tenho minha carteira de piloto, o que é uma felicidade tão grande quanto.
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