A aviação na Copa

O setor aéreo do Brasil opera além da margem do limite. Basta um simples feriado prolongado que os aeroportos e empresas aéreas entram em colapso. Voos atrasam até serem cancelados, não há espaço para as aeronaves nos pátios, tripulações trabalham no limite de sua resistência, e a segurança cai para muito aquém do padrão. Hoje em dia, os aeroportos estão mais semelhantes a antigas estações rodoviárias do que a qualquer outra coisa. Esse é o maior obstáculo logístico que o Brasil precisará enfrentar nessa Copa, para não dar o maior vexame com a Copa mais cara da história.

Não entrando nos méritos financeiros da união, nem do comprometimento das empreiteiras com a verdade, uma pesquisa do IPEA mostra que nove dos doze aeroportos que estão em reformas e ampliação simplesmente não estarão prontos até a largada da Copa. Ou seja, os turistas irão chegar ao Brasil e, provavelmente, deparar-se com um funcionário passando no saguão de embarque com entulhos ou ferramentas. Isso é o melhor prognóstico de receptividade que iremos oferecer.

Infelizmente os problemas não são exclusivos dos aeroportos. Os céus brasileiros, bem como os órgãos de controle, também registrarão dezenas de problemas relacionados ao alto fluxo. O DECEA (Departamento de Controle do Espaço Aéreo) tomou medidas e já fez alterações em várias rotas, desde os corredores visuais em São Paulo até áreas onde o sobrevoo será limitado ou mesmo proibido.

Ao meu ver, a maior mudança que deveria ser feita é na segurança. Convenhamos: temos uma segurança muito falha. Como piloto, já tive algumas vezes a oportunidade de adentrar o pátio e ter contato com a aeronave sem ao menos passar pelo raio-x, no entanto não o fiz. Existem brechas que atualmente já são grandes. Imaginar isso durante a Copa, com milhares de voos diários, dá uma certa preocupação.

Percebi que esse tema tem sido muito pouco divulgado nas mídias físicas e na internet. Normalmente veem-se algumas reportagens na televisão, porém certamente são muito limitadas e escondem dados ou detalhes que nós sequer conhecemos. Em função disso, esse será o tema de mais uma série semanal aqui no Canal Piloto. Preciso dizer que, embora seja um prazer escrever artigos aqui, é muito desagradável ver a realidade do sistema aeroviário brasileiro atualmente, e ter de relatar isso sabendo que é a mais pura verdade. Todos que utilizam desse sistema como trabalho ou diversão sabem o que significa saber que estamos, literalmente, não fora dos padrões FIFA, mas sim dos padrões de segurança.

Durante a semana, vamos entender um pouco mais por que os aeroportos estão de fato em colapso, e o que seria a medida correta a ser tomada pelo governo. Veremos também o que a FAB tem feito para garantir a segurança nos eventos, e as mudanças que o DECEA vem fazendo no nosso espaço aéreo.

Eduardo Mateus Nobrega
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