Voamos o mesmo voo de Dumont

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Durante a semana, pudemos perceber claramente como é simples a concepção do voo, justificado pela pouca alteração da função primária da asa, e das suas reações aerodinâmicas. Mas pudemos ver também que, em 100 anos de aviação, o homem foi capaz de promover o desempenho aerodinâmico dos variados perfis, e criar o voo com as capacidades flexíveis de que dispomos hoje. Essas pequenas alterações ocorreram e ocorrem através de dispositivos muito curiosos, por vezes mal compreendidos no nosso dia a dia, de modo que entendê-los se faz mais do que necessário.

Eu já cheguei a dizer em uma outra série de artigos – falando sobre segurança e acidentes –  que o avião que você voa hoje, muito provavelmente, é diferente do que você voou no ano passado. Mantenho essa afirmação, no entanto, vimos nos últimos artigos que a essência e as leis que regem o voo são inalteradas, uma vez que o voo e suas reações equivalentes permanecem imutáveis e preservadas pelo homem, mesmo apesar de incontáveis avanços.

Agora, é preciso considerar que muitos comportamentos e performances em voo são constantemente alterados ou inovados. Isso ocorre primeiro pelo fato da tecnologia estar em constante avanço, e segundo pela legislação também ser constantemente alterada. Essa mesma legislação, inclusive, reconhece ou não o uso de determinados equipamentos. Um exemplo disso é uso do Canard em aeronaves homologadas como o Cessna. Os kits são vendidos e reconhecidos facilmente nos EUA, mas no Brasil – e acredito que na maioria dos países membros da ICAO – esse reconhecimento por uma adaptação no avião é burocrático e envolve órgãos reguladores, o que não deixa de ser correto.

Então resumindo, existe uma linha muito tênue entre mudança e aprimoramento do que já se tem em mãos. O constante avanço precisa existir, até mesmo pelo fomento da indústria aeronáutica e da segurança, mas é preciso entender que, embora muitos dispositivos e alterações sejam feitos em conceitos seculares, o voo se mantém simples e igual ao que garantiu o feito de Santos Dumont em 23 de outubro de 1906.

Reitero o que disse: O homem conseguiu aprimorar cada detalhe do voo, trazendo mudanças nas aeronaves, na segurança, e finalmente, na nossa relação com a aerodinâmica. Isso foi possível através de muito estudo, além de muitas tentativas não tão bem sucedidas. O homem também foi capaz de redesenhar perfis não apenas melhores, mas específicos para cada tipo de voo.

Estejamos atentos para essas pequenas mudanças, para acompanhar a evolução das ferramentas do voo e, assim, nos cercarmos de conhecimento específico, melhorando nosso desempenho – seja na mera e ocasional identificação de um modelo de aeronave, ou até mesmo na administração dos nossos recursos dentro de uma cabine, utilizando corretamente cada ferramenta que possuímos na aeronave.

Eduardo Mateus Nobrega
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