Hidroaviões: Desafios

Nada seria mais inimaginável na aviação comercial de hoje do que ir ao porto mais próximo, para pegar um voo para algum lugar. Simplesmente não consigo imaginar a dinâmica envolvida no preparo de segurança e no apoio de “solo” que isso necessitaria. No entanto, é possível pensar ilustrativamente nos pontos positivos e negativos de uma iniciativa desse porte.

Recentemente estive conversando com um engenheiro alemão de aeronaves, e ele me disse a seguinte frase sobre o assunto: “Os hidroaviões seriam perfeitos se fossem um pouco mais baratos de se fazer”. E não é preciso pensar muito para concordar com ele: fazer uma aeronave com um trem de pouso leve e resistente é diferente de fazer uma aeronave deslizar sobre a água a 160 km/h, e resistir a isso. Um hidroavião traz desafios principalmente estruturais, no sentido de que a água, em velocidades acima de 150 km/h, é igual ao concreto, mas com ondulações incontroláveis. Em outras palavras, seria como pousar um Boeing 737 em uma pista de barro ou cascalho, algo que iria (tirando o fato de destruir as turbinas) forçar a estrutura a receber vibrações constantes a cada pouso.

Seja como for, a ideia de se ter uma aeronave que não precise necessariamente de pista para operar, e com um compartimento para cargas bem elevado por poder ter seu peso mais distribuído na fuselagem, é algo a se estimar no que tange engenharia de aviões. Hoje, a ordem do dia é pensar em economia e mais lucro – e em segurança também, mas isso vem como conseqüência, e como mais uma forma de lucro por atrair os consumidores pensantes.

Buscar então a aeronave que possa conter essas características é o objetivo principal. Um avião que pousa na água é capaz de ter essas vantagens? Sim, e respondo isso com total certeza. Um hidroavião de casco em forma de barco tem, como disse anteriormente, seu peso extremamente bem balanceado por toda sua estrutura. Sendo assim, ele tem muito mais área interna disponível para carga ou passageiros – consequentemente, mais carga paga e mais lucro. Mas isso não é exclusividade desse modelo: aeronaves com flutuadores no lugar dos trens, como o Cessna 206B, têm espaço para bagagem ou carga distinta, e até mesmo combustível. Porém, nesse modelo, a perda de velocidade em função do arrasto é enorme, e é preciso pensar na relação custo benefício, o que não acontece na outra versão.

De qualquer maneira, se pensarmos um pouco, já é possível ter uma ideia básica dos desafios de um projeto como esse na aviação comercial. Aprendi, no entanto, que tudo que é desafiador na aviação traz grandes vantagens e avanços. De outra forma, estaríamos voando ainda com motores a hélice, ou provavelmente eu e você teríamos perdido o dobro de tempo de nossas vidas num voo rápido.

Eduardo Mateus Nobrega
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