Os riscos envolvidos na atividade aérea hoje são imensuráveis. Transportar centenas de vidas numa aeronave requer que milhares de outros serviços funcionem perfeitamente. Para que um avião decole em segurança, por exemplo, é preciso ter serviços de navegação funcionando 24h, controle de tráfego, abastecimento sem falhas, estrutura do aeroporto em bom estado, auxílio de solo para a aeronave, segurança na área do pátio, e claro, tripulação qualificada para isso. Mas no passado nem tudo funcionava perfeitamente. As aeronaves e as empresas dependiam muito menos de padrões e mais de improvisos – o que de certa forma funcionava perfeitamente, até o voo se popularizar.
Continuando a série da semana, quero mostrar como funcionava o controle de tráfego do aeródromo no passado. Hoje nós temos torres altas, radares de ar e solo para operar e vetorar o intenso tráfego da ATZ, controladores que falam várias línguas, e sem dúvida, vários sistemas para emergência. Nas décadas de 60 e 70, particularmente, as coisas não funcionavam assim. A torre dos aeródromos não era torre – isso mesmo, era um controle rádio em uma frequência livre que se situava numa área aberta. Muito raramente tinha-se uma estrutura mais elevada.
Um fato curioso é que, incrivelmente, o pouso só era autorizado quando a aeronave era claramente avistada, e por vezes era obrigatório um low pass perto da estação de comunicação. Hoje, nem sonhe em fazer uma proeza como esta. Quando o aeródromo se encontrava sob forte neblina ou visibilidade limitada, o atual radar de solo por vezes era substituído por uma pessoa que guiava a aeronave à frente dela até um ponto determinado – embora os registros não citem, imagino que levasse algo luminoso ou chamativo. O risco disso devia ser imenso, mas como disse, funcionava e era o método que as pessoas achavam mais seguro.
O abastecimento por sua vez era muito irregular, funcionava praticamente como um posto de gasolina atual. A única diferença é que durante um tempo, para incentivar a aviação, os combustíveis foram liberados por vezes a preços baixíssimos para a época, quando não gratuitamente. De resto, tudo se assemelhava com a informalidade de um posto automotivo comum. Você parava sua aeronave incrivelmente perto das bombas, e se preciso o piloto mesmo realizava o abastecimento, sem aterramento ou filtros. Claro que alguns posteriores acidentes mudaram rapidamente esse método, e puseram fim nessa informalidade.
Devemos sempre que olhar algo funcionando no aeroporto perfeitamente, até um mínimo detalhe, tentar imaginar a aviação sem isso. Só assim podemos, em determinados casos, dar o devido valor para coisas simples, e das quais por vezes chegamos a reclamar. Na verdade, pessoas precisaram literalmente perder suas vidas ou passar por inúmeras situações ruins para se chegar naquele ponto.
Na continuação da série, vou falar dos avanços da construção de pistas resistentes, mostrando como eram e como são atualmente, bem como diversos outros detalhes que durante a semana descobriremos juntos.
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