O mito da segurança

Há uma mistificação quanto à maior segurança para quem voa uma aeronave bimotora, ante a uma monomotora. No geral, acredita-se que o simples fato de ter um motor a mais traduz-se em uma significativa redução do risco de um acidente. Em caso de pane em um motor só, a aeronave continuaria voando normalmente. Isso se faz por parte verdade, mas até certo ponto. Existe um ponto que as pessoas não consideram muito quando julgam esse caso: Quando um motor falha numa aeronave bimotora, a perda de desempenho é tão grande que chega a convencer qualquer pessoa de que a melhor ideia seria estar em uma aeronave monomotora, também em pane do seu único motor.

Essa série não procura dizer que um monomotor sempre será um avião mais seguro que um multimotor. Como citei anteriormente, isso precisa ser avaliado em cada caso pela diversidade dos modelos, e pela discrepância de locais de operação. Existem, sim, claros fatores gerais que podem ser facilmente avaliados, e de forma lógica aceitos como negativos numa emergência de perda de motor de uma aeronave bimotora. É justamente desses fatores que não levamos normalmente em conta que essa série procurará tratar. Um fato ignorado por nós, por exemplo, é que uma aeronave bimotora tem duas vezes mais chance de ter falha em um motor do que uma aeronave monomotora. E quando isso acontece, muitas vezes é preferível estar na aeronave que possui somente um motor.

O limite de potência disponível em um motor gira em torno de 300-350 hp. Mais do que isso, o motor perde rendimento rapidamente. Desse modo, colocar mais um motor numa aeronave, quando é necessária mais potência, é a alternativa que cria um bimotor, por exemplo. Mas o que acontece é que, enquanto um monomotor voa com apenas um motor de 300hp, um bimotor necessitaria de ao menos dois motores de 200hp em cada asa. Ironicamente, isso acarretaria em muito mais arrasto, mais peso e menos desempenho que uma aeronave monomotora teria.

Justamente por causa do fator aerodinâmico, alguns projetos de bimotores sequer saem do papel, ou não alcançam plenamente o mercado. Voar um bimotor sem um motor, por vezes, pode ser mais perigoso do que estar em um monomotor também em pane. Isso se explica pela evidente perda de eficiência e desempenho. Dependendo das condições do local e do carregamento da aeronave, isso pode se transformar numa emergência ainda pior, ou até mesmo irrecuperável.

Aeronaves multimotores leves têm um problema também ligado à perda de um motor, que leva a uma assimetria de potência. Vários projetos tentam extinguir esse problema, mas não são ainda bem vistos. Essa situação força o piloto a utilizar das superfícies aerodinâmicas fortemente para que possa manter o voo estável, novamente assim elevando o arrasto e, desta vez, reduzindo até a capacidade de controle sobre a aeronave.

É óbvio que existem ainda fatores positivos em um bimotor. Não é à toa que alguns modelos estão ganhando o mercado com o jargão de “bimotores leves”, e conquistando uma parcela preciosa na aviação executiva. Quais são, então, os fatores positivos de uma aeronave multimotora? É o que analisaremos juntos nos próximos capítulos.

Eduardo Mateus Nobrega
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