O pé e mão de verdade

A primeira coisa que devemos entender sobre o voo a vela é que é um voo totalmente diferente, nas suas disponibilidades, dos outros tipos de voo. Isso quer dizer que voar um planador vai exigir de você conhecimentos e habilidades não antes requeridas voando com uma aeronave motorizada. O primeiro sinal que comprova esse fato é a própria exigência teórica, necessária para requerer a carteira de Piloto de Planador. As matérias mudam muito no sentido de conteúdo relacionado com o voo. Isso se faz justificável pois, como vimos, a compreensão da meteorologia, teoria de voo e conhecimento técnico específicos da aeronave que você está a voar é indispensável.

O segundo ponto a se observar é que a instrução precisa ser muito bem feita, e também muito bem aproveitada pelo aluno. Não é por nada que o piloto de planador é conhecido por possuir um “pé e mão” acima do padrão normal. Isso é tão importante que, para alguns pilotos que querem obter maior destreza em voo e se preparar melhor para uma possível pane, a obtenção da carteira de planador é uma ótima ideia.

A exigência da atenção do piloto acontece desde o reboque, e dada como de total importância já na soltura do cabo. Após esta, o primeiro passo é buscar regiões de instabilidade atmosférica, com gradientes adiabáticos superiores a 1. Uma boa pista sobre esse lugares tão preciosos para o voo a vela é a base de nuvens cumuliformes, que apresentam grande desenvolvimento vertical e denotam zonas de grande ascensão de massas de ar, as famosas e estimadas térmicas.

Durante o voo planado, praticamente todo foco é dado a dois instrumentos na aeronave: o climb –  que mostra a razão de subida ou descida do planador, neste normalmente dado em metros –  e o altímetro. Este último simplesmente vai servir para alertar ao piloto da altitude mínima convencionada ao voo planado – normalmente, de 600 pés em aeródromos muito acima do nível do mar. Praticamente, todo o voo de planador é guiado pela presença de térmicas e manutenção da altitude. Um claro exemplo disso foi o voo citado que bateu o recorde no Brasil. Os 1.002 km foram integralmente contados em rota.

Além desses fatores que guiam o voo planado, o mesmo pode diferir muito em relação à performance das aeronaves voadas. Ou seja, diferentemente do voo motorizado, onde o comportamento do avião por vezes nem é levado tanto em consideração, no voo a vela esse ponto é extremamente abordado, e a mudança de avião requer todo um planejamento prévio e adaptação ao voo. Observando esses pontos, é possível compreender que o voo a vela vai muito além de qualquer outra categoria de voo, e também exige do piloto habilidades de um voo comum.

Eduardo Mateus Nobrega
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