Projetando um Hidroavião

Que os hidroaviões são aeronaves complexas e peculiares, com a capacidade de compor o serviço aéreo seja qual for, nós sabemos por meios inquestionáveis e até lógicos. Mas por trás de um hidroavião, o que muda em relação a uma aeronave normal? Como citei anteriormente a frase de um engenheiro alemão com quem conversei, que classificou os hidroaviões como aeronaves custosas e por isso não perfeitas, aí se embasa toda a diferença em um projeto normal. Segundo esse engenheiro – que trabalhou para a empresa alemã Dornier nas décadas de 60 e 70, e auxiliou no projeto de várias aeronaves, bem como em suas manutenções – a aviação foi realmente outra depois dos avanços feitos com os hidroaviões, e isso é uma parte esquecida da história. Existem pessoas que sabem a ordem completa de aeronaves da Boeing, mas poucos sabem que a mesma chegou a fabricar aeronaves de transporte que utilizavam a água como pista. É o caso do B314.

O projeto de uma aeronave comum começa pelo motor. Curiosamente, essa é a parte principal num projeto aeronáutico, pois é daí que é possível julgar todas as características da aeronave. E novamente, podemos comprovar isso na prática: os hidroaviões, não fugindo à regra, são projetados total e exclusivamente em função do motor, mas por quê? A resposta é bem simples: O arrasto na água causado pelo forte e intenso contato da estrutura da fuselagem é imenso, por centenas de vezes maior do que o do próprio ar. Então, uma aeronave que conseguisse decolar da água precisaria ter um sobra de potência muito grande, para vencer esse arrasto inicial. Uma vez no ar, a desvantagem se minimizaria nos modelos de casco-fuselagem, mas nos que utilizam flutuadores o desafio continua e aumenta ao quadrado da velocidade.

Nos modelos que utilizavam flutuadores, o arrasto chegava a ser tão grande que um dispositivo semelhante ao mach trimmer era preciso para compensar a força que o piloto e própria estrutura do avião sofriam. Nos modelos atuais, como por exemplo o Caravan da Cessna, isso não chega a ser preciso, pois é uma aeronave que voa a baixa velocidade. Aproveitando que citei o Caravan, uso da oportunidade pra exemplificar a razão de necessidade de grande sobra de potência nesses modelos. O Cessna Caravan possui um motor a reação de em média 600 hp, e voa a apenas 140 kts.

Esse era o maior problema e razão para o custo de produção de um hidroavião, e ainda continua sendo. Essa também se faz a principal diferença em comparação às outras aeronaves: a relação peso/arrasto-potência precisava ser melhorada a qualquer preço, preço esse muito alto.

Eduardo Mateus Nobrega
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