Quanto mais alto, melhor

Como pudemos ver ao longo da série, o CFIT é principalmente causado por uma má execução dos procedimentos feitos em apenas 4% do tempo total do voo – algo irônico se formos pensar que, nos outros 96%, quase nunca se registra esse tipo de acidente, justamente pelo fato do piloto não estar executando essas atividades que requerem precisão.

Um outro fato intrigante é que, apesar de muito poucos casos de CFIT serem registrados, ou mesmo de ser um acidente realmente difícil de ocorrer, quando o mesmo ocorre a chance de sobrevida dos passageiros e tripulação é ínfima. Infelizmente, não há muitos registros de sobreviventes nesses casos, pelo simples fato de um avião não ser projetado para suportar um acidente assim.

Apesar disso tudo, ainda existem meios muito simples de se manter longe das probabilidades de uma ocorrência de CFIT. Os registros mostram que, na maioria dos casos, ambos os pilotos estavam em desconhecimento das cartas e de detalhes importantes sobre arremetida no aeródromo a que se destinavam. Curiosamente, já houve acidentes causados pelo piloto confundir o nome de uma estação de VOR com um fixo afastado a 12 milhas. Isso é inaceitável numa linha aérea, e ilustra totalmente o que estamos falando durante a semana.

Outro ponto extremamente importante, que pode eliminar praticamente todas as chances de se ocorrer uma colisão com o solo, é simplesmente obedecer aos mínimos estabelecidos numa carta de aproximação e decolagem. Acredite, esses mínimos foram extremamente testados e avaliados por órgãos militares do Brasil e do mundo. Alguns deles, inclusive, foram estabelecidos pela própria ICAO.

Claro que, para a execução correta dos mínimos, é necessário o que foi citado no parágrafo anterior: um prévio conhecimento dos procedimentos, e ao menos uma execução mental do que ali é sugerido –  sim, as cartas são na maioria das vezes uma sugestão ao piloto, e a decisão de prosseguir ao pouso é exclusivamente dele.

Além disso tudo, a total segurança de um procedimento IFR reside na correta execução dele. Ou seja, se você começar a executar um determinado tipo de aproximação, jamais será aconselhável que eventualmente esta seja alternada para outra de maior precisão. Isso pode aumentar em muito as chances de desorientação espacial e perda dos mínimos acima citados.

Observar um instrumento alheio àquele procedimento não vai ajudar em nada, nem fazer o seu avião pousar mais suavemente, acredite. Um claro exemplo disso é o conhecido erro apelidado de “voo visumento”, onde o piloto voa em regras por instrumento, mas segue indicações visuais errôneas.

O CFIT pode e deve ser evitado. Um voo controlado corretamente jamais pode estar à mercê do risco de um acidente como esse. Os procedimentos IFR são muito testados e pensados para a total segurança do voo. Saber utilizá-los de forma correta faz a diferença entre um pouso tranquilo e uma posterior investigação aeronáutica.

Eduardo Mateus Nobrega
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