Refazendo as rotas

No década de 90 a Embraer, após passar por momento ruins, conseguiu se restabelecer no mercado através do sucesso do projeto do ERJ-145, que levou o nome da empresa para outros continentes. Tão logo isso ocorreu, Maurício Botelho, na época presidente da Embraer, deu início a uma reestruturação do corpo da fabricante, e também a um enxugamento das suas contas. Ele não sabia, mas a Embraer nunca mais se veria numa situação assim.

Logo em seguida, veio o lançamento mais importante da Embraer, que perdura em produção até os dias de hoje: a família E-Jets, com o Embraer 170 e o Embraer 190. Uma coisa interessante sobre esses dois lançamentos é que eles foram extremamente estratégicos. A Embraer jamais teria sucesso em competir com a Boeing e a Airbus naquele período. Seria como entregar a companhia para o prejuízo. Pensando nisso, os diretores da Embraer decidiram então por conquistar uma fatia um pouco menor do mercado da aviação, mas com certeza, sem grandes riscos de prejuízo.

A Embraer lançou a série E-jets focando em aeronaves com capacidade entre 70 e 120 passageiros, para justamente não entrar no mercado que as fabricantes maiores atuavam, o de aeronaves de grande porte e cargueiras. O sucesso dos E-jets foi imediato. Logo após o lançamento, foram encomendadas 878 unidades com mais 915 intenções de compra, partindo desde de empresas low-cost até grandes nomes da aviação atual. A estratégia de não brigar pela porção principal estava funcionando, e as vendas foram cada vez mais frequentes.

Novamente surgiram inúmeras parcerias, como a firmada com a americana Lockheed, que futuramente rendeu ideias para o atual seguimento militar da Embraer. Em 2005, a fabricante brasileira se deu ao luxo de arriscar e sair da sua zona de conforto. A Embraer decide então por iniciar a fabricação de jatos executivos de luxo. Foi uma verdadeira ofensiva comercial, como até hoje classifica a própria Embraer. A empresa utilizou-se da plataforma do ERJ-135 para a fabricação do Embraer Legacy, através de uma verdadeira reestruturação interna dessa área. Em maio do mesmo ano, foram anunciadas duas novas linhas de jatos: os light jets e os very light jets, que futuramente atenderiam pelos nomes de Phenom 300 e Phenom 100, respectivamente.

Em toda a sua trajetória de mercado, a Embraer viveu grandes reestruturações e refez suas rotas, por vezes arriscando o prejuízo e o lucro, mas nunca deixando de contar com a grande estratégia de mercado que até hoje é a sua maior virtude. Variar suas opções foi o melhor opção que a fabricante pôde ter. Ninguém sabe o que haveria acontecido se a mesma não tivesse, ao menos, optado pelas ofensivas de mercado. A Embraer, mesmo após perceber que o verdadeiro lucro viria de além de nossas fronteiras, continuou olhando para o mercado e necessidades nacionais, de modo que investiu na produção do Ipanema após acordos firmados com o governo. Esses acordos também motivaram o início da produção das aeronaves militares ou de treinamento atualmente utilizadas pela Força Aérea Brasileira. Esse será o assunto do nosso próximo capítulo da série.

Eduardo Mateus Nobrega
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