Saber cair é não contar com a sorte

Durante a semana, pudemos acompanhar uma breve reflexão sobre uma frase citada em um noticiário, que dizia: “meu pai sabe cair”. Então, pesquisando um pouco sobre o que seria realmente saber cair, e ao mesmo tempo abordando o tema em nossos artigos, ficou claro que o fato de entrar em uma emergência e precisar realizar um pouso forçado não significa ter que contar com a sorte. Mas afinal, o seria saber cair? Para maior compreensão, dividi o citado “saber cair” em três fatores, os quais definem a sua sorte em uma emergência. Os três fatores envolvem um planejamento adequado, conhecimento da aeronave voada, uma ação clara e técnica na hora do problema, e por último, o cuidado após uma emergência. Todos os três fatores são igualmente importantes, e fazem toda a diferença.

Embora estar numa emergência seja um risco ao qual um piloto está sempre exposto, e saber cair deva ser inerente às habilidades pessoais de cada um, não significa que você precise passar por uma emergência ou situação de risco para aprender conceitos de segurança de voo. Esperar pelo pior nem sempre é pessimismo, pois embora se preocupar com algo que possa ocorrer seja algo desconfortável para alguns, um piloto preocupado jamais será um piloto desatento ou descansado. Perceba que todos os princípios de segurança de voo passam pelos critérios da atenção e da preocupação com determinado risco, mas não confunda preocupação com tensão. Nesse caso, a segurança já seria prejudicada, e há uma linha muito tênue entre a preocupação normal (segura) e a excessiva (arriscada).

A correta postura em uma situação de emergência se exemplifica claramente pelo acidente recente com o voo da Avianca. Embora outro piloto pudesse ter trazido a aeronave ao solo da mesma forma, a postura daquele comandante em especial foi totalmente segura, de forma a transmitir essa segurança para o controle, passageiros e qualquer um que escute a gravação da fonia do voo.

Como citei anteriormente, todos nós conhecemos aquela velha frase: “tudo que sobe tem que descer”. Mas é claro que nem sempre desce como a gente gostaria que descesse. Essa regra se aplica totalmente ao voo: toda aeronave, qualquer que seja, uma vez que decola, precisa pousar. Há quem diga que o bom piloto é aquele que tem o número de pousos igual ao de decolagens, mas essa regra não pode ser genericamente aplicada. Pudemos ver, então, que um bom piloto na realidade é aquele que tem, em qualquer período do voo, plena capacidade de trazer sua aeronave e os demais a bordo de volta ao solo em segurança. Afinal, saber cair não é contar com a sorte, e sim, saber seguramente lidar com a falta dela.

Eduardo Mateus Nobrega
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