Sorriso e simpatia mesmo na turbulência

Sem dúvida, falar de formação, carreira e rotina de comissários de bordo gera muita polêmica, uma vez que a experiência profissional é muito pessoal e cada um tem sua ideia sobre ela. Durante a semana, me arrisquei num tema um pouco fora da minha área, mas fiz questão de pesquisar e perguntar a profissionais atuantes. Ao fim de uma semana de série, concluo que não obstante sua área de atuação na aviação, é muito importante conhecê-la como um todo, ou seja, saber como funciona cada peça que torna possível o voo seguro.

Como comentei em algumas séries aqui no Canal Piloto, existe um conjunto de inúmeros fatores – leia-se pessoas – que tornam possível toda a logística de um aeroporto. A função do agente de solo pode não ser tão bem vista como a do comandante, no entanto ele contribui sensivelmente para toda a conjuntura do fazer voar. Para entender, basta tentar imaginar a operação em aeroportos sem ele. Da mesma forma, o voo precisa do comissário para que este seja desde seguro a lucrativo para a empresa e confortável para os passageiros.

Muito recentemente, todos os aeronautas passaram por uma situação difícil com as principais empresas nacionais. Com a extinção da Webjet, muitos profissionais foram demitidos, desde pilotos até mecânicos. Nesse meio tempo, surgiu o boato de que determinadas empresas passariam a utilizar menos comissários em voos curtos e nacionais. Juntando-se à polêmica demissão, esse fator gerou uma insegurança imensurável nas escolas de formação, e diminuiu a procura por cursos na área de comissários e de pilotos, pelo fato de ser um investimento caro num período de insegurança.

Para os comissários de bordo, historicamente, não houve período mais covarde do que a falência da Varig – não só em função do não pagamento de seus salários atrasados, mas também por que a Varig atuou no Brasil num período onde o atendimento a bordo era levado ao nível mais alto. Naquela época, voar era ainda para poucos, e um comissário era quem proporcionava o voo fantástico esperado na hora da compra do seu bilhete. Esses profissionais deram seu sangue até o último dia da última aeronave voando. Alguns dizem: “Na realidade, parecia mais uma grande família tentando esconder seus problemas internos e fazer bonito para as suas visitas”. De fato foi assim, coisa muito particular que não aconteceu com a totalidade dos funcionários de outras empresas, que chegaram também a falir em períodos próximos.

Os comissários, hoje, são de certa forma responsáveis por transmitir o brilho da aviação. É contagiante a postura que o mesmo toma ao entrar a bordo de uma aeronave, mesmo que seja uma rota que tenha feito dez vezes naquele mês. Nesse aspecto, muitos outros profissionais na aviação civil têm bastante o que aprender. Admiro essa profissão, e admito que sem ela, a minha não seria possível.

Parabéns a todos os comissários que nos proporcionam um voo seguro e tranquilo. Certamente, essa profissão passa longe do fim – aliás, se encontra agora numa nova etapa. Desafios surgem com novas e maiores aeronaves, mas isso já é assunto pra uma nova série.

Eduardo Mateus Nobrega
Redes
Latest posts by Eduardo Mateus Nobrega (see all)