Chegando em São Paulo, este belo aparelho resolveu acumular um pouco mais de história para a sua lista, antes de chegar ao seu destino final, que era a Fundação Museu de Tecnologia de São Paulo. A história foi registrada em uma matéria no jornal O Estado de São Paulo, de Janeiro de 1980, com o nome: “Na sua última viagem, eis que surge uma ponte”.
Na matéria de primeira página, o jornal destaca a travessia deste DC-3, que seguia em sua última viagem, até que em seu caminho surge a ponte da Freguesia do Ó. A aeronave foi então cercada de dezenas de populares. Não muito surpresa, uma senhora chamada Maria Lúcia, que morava no local, fala com seu sotaque meio italiano:
“– Mas essa ponte é azarada mesmo. Numa cidade deste tamanho, tinha que cair um avião logo aqui” – dizia ela, lembrando os transtornos causados por uma erosão sob a ponte, em novembro do ano passado, além das avarias causadas na sua estrutura por dois caminhões muito altos, que não conseguiram passar sob a ponte na semana anterior.
Para que o DC-3 fosse transportado, tiveram que desmontar suas asas, hélices e lemes. Suas peças foram colocadas sobre uma carreta, que rebocou o avião pelas avenidas Santos Dumont, Olavo Fontoura, Brás Leme, Marginal Tietê e depois Marginal Pinheiros. Pelas primeiras pontes, entre a Casa Verde e Limão, o caminhão passou sem problemas.
Quando a viagem parecia seguir bem, surge o problema. A Ponte da Freguesia do Ó tem 4,20 metros de altura, o que não era suficiente para a passagem do caminhão carregando o DC-3. Mesmo com muitas tentativas do motorista, os engenheiros tomaram uma decisão: para não prejudicar o tráfego, eles esvaziaram os pneus do caminhão, retiraram a cauda da aeronave e passaram o caminhão pela ponte. Mas pelo horário, a aeronave teve que pernoitar na marginal.
Pela manhã, muitos populares curiosos tentaram chegar o mais próximo possível da aeronave, podendo colocar muitas vida em risco ao tentarem atravessar a via. Por conta disso, os engenheiros da transportadora decidiram retirar a aeronave dali, seguindo viagem por uma travessa da Marginal Tietê, próxima à Ponte da Freguesia do Ó.
Depois de muito esforço, a aeronave chegou ao seu local de destino às 13:00. Houve bastante dificuldade para colocá-la dentro do museu. Sabendo do ocorrido, um senhor chamado Antônio Carlos Freitas Sampaio pensou que se tratava de um acidente. Um funcionário da VASP resolveu se aproveitar da situação, e logo explicou:
“Sim, o piloto fez uma manobra muito difícil e conseguiu pousar o avião bem aqui. Para se salvar, ele saltou por aquele buraco (apontando para a porta), e fraturou o crânio e quebrou uma perna.” Por certo, o senho deve ter acreditado. Mas por essas e outras, esse DC-3 despertou a atenção e a admiração dos paulistanos, e está até hoje exposto no Museu Catavento Cultural, localizado na Praça Cívica Ulisses Guimarães, s/n – Parque Dom Pedro, São Paulo.
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