O artigo de hoje começa com um exemplo simples, mas que tem mudado a aviação nos Estados Unidos. Aqui no Brasil, nós julgamos conhecer a Cessna e seu trabalho, mas na realidade estamos só 20 anos atrasados nas notícias. Embora a Cessna mantenha um padrão contínuo e conhecido nas suas aeronaves, hoje ela abriu mão do conforto de se ter um mesmo motor operando sem problemas por décadas, e investiu em tecnologia totalmente nova. Em outras palavras, a Cessna nos servirá como exemplo porque decidiu abrir novos caminhos para a carência energética da aviação, sem esperar pelo aparecimento do combustível ideal.
Como a Cessna fez isso? Simples: ela percebeu justamente o que discutimos no artigo de ontem. Para que realmente haja uma inovação ampla e total, pelo menos nos modelos disponíveis de combustível, é preciso que simultaneamente haja uma evolução e cobrança por parte da própria indústria aeronáutica. Um exemplo disso é a analogia que fizemos com o lançamento de um software mais avançado, e um celular que tenha a capacidade de utilizá-lo.
A Cessna, muito recentemente, lançou uma versão C-182 que utiliza Diesel, o qual inclusive pode ser proveniente da reciclagem do plástico, um combustível totalmente aplicável. Mas vejamos as vantagens do Diesel nessa aeronave: A queima desse combustível deverá reduzir em até 40% o consumo horário da mesma aeronave queimando AVgas, desenvolvendo mais potência por grama e diminuindo o custo operacional, já que a manutenção é mais barata.
Conjuntamente com o lançamento da aeronave, a Cessna partiu para outra frente tecnológica, desenvolvendo o primeiro Diesel para a aviação, o JT-A. Claro, não é o mesmo Diesel com o qual abastecemos caminhonetes nos postos de gasolina, mas é um combustível realmente muito próximo a este, julgado por vezes mais acessível e barato que o Diesel comum. No entanto, graças a nossa rígida e nada arbitrária legislação do CBA (Código Brasileiro de Aeronáutica), tanto o motor operacional com JT-A quanto o modelo citado da Cessna não são homologados no Brasil, e não há previsão para tal homologação.
Durante a Segunda Grande Guerra, os pilotos, em desespero, chegaram a utilizar outros tipos de gasolina, não recomendados para as aeronaves. Era um tiro no escuro, pois não havia ainda estudos sobre as consequências disso. Incrivelmente, foi ali que eles começaram a adaptar os motores para suportarem esse “abusos” da guerra, ainda mais em regiões já assoladas por inúmeros ataques. Não estamos em guerra com país algum, vivemos a realidade de uma aviação totalmente civil, mas ainda assim lutamos diariamente para manter uma aeronave no ar. Quem conhece e voa sabe os custos que isso envolve. Uma renovação energética é imprescindível e necessária agora. O que vejo é a indústria aeronáutica já atentando para esse fato, e preparando o mercado para um futuro não tão distante.
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