Muito se fala sobre uma possível desintegração do voo da Malaysia Airlines em pleno voo. Isso explicaria a ausência de destroços grandes e demais pistas sobre o paradeiro da aeronave, como por exemplo a interrupção do sinal do transponder, ou mesmo o desaparecimento dele nos radares primário e secundário. Se pararmos para pensar, de fato a única forma racional de uma aeronave sumir da gama do radar, e deixar de devolver qualquer sinal por menor que seja, é deixando de existir. Assim, ela deixaria de refletir o pulso secundário do radar. Mas como funciona afinal essa diferença de radar primário e secundário?
O serviço radar, anexado a um transponder operante e ativo, divide-se dois níveis: um serviço radar primário e um secundário. O secundário é sempre mais completo que o secundário, e se divide em vários modos, diferenciado-se pelas informações fornecidas por ele. Alguns dão informações de altitude, velocidade, localização e outros dados. O outro já não passa muitas informações. Quando o serviço radar é anexado a um transponder, que devolve o pulso com informações do voo sejam elas quais forem, ele se caracteriza um radar em serviço secundário. Mas e quando não existe transponder, ou ele deixa de funcionar?
O serviço radar então se caracteriza como secundário e de muita pouca precisão, não podendo ser gerada quase nenhuma informação útil à navegação. Para um controlador de um espaço aéreo movimentado, ter uma aeronave com o transponder inoperante em modo C (modo atualmente obrigatório para qualquer aeronave voando em espaço aéreo controlado, ou fora deste acima do FL 100), é um grande distúrbio para toda a navegação da região. Certa vez, em um voo de rota e monitorado pelo centro Curitiba, descobri que meu transponder modo C parou de funcionar. Inúmeras tentativas de IDENT foram infrutíferas, e precisei prosseguir com o voo monitorado somente pelo serviço primário do radar – sem indicação de altimetria, velocidade ou dados da minha aeronave. O resultado foi que, em cerca de 15 minutos, cheguei a ouvir mais de 10 aeronaves de companhias alertando o centro Curitiba, preocupadas com a minha presença não declarada no TCAS no meio da sua rota. Imagino que deva ter sido algo desconfortável, pelo menos.
Voltando agora à nossa teoria, e compreendendo um pouco mais sobre o serviço radar, essa suspeita de explosão se baseia no desaparecimento de qualquer informação da aeronave da tela dos inúmeros radares e TCAS de várias outras aeronaves. Nem o serviço primário pôde ser mantido. Para isso, somente uma desintegração de todo o avião seria a explicação. Temos casos na história de aeronaves que sofreram desintegração em pleno voo. Sendo uma teoria que se ampara por meios científicos e práticos (o que não é o caso de abduções ou acontecimentos paranormais), precisamos considerar todas as outras hipóteses até finalmente a dúvida ser sanada.
Especialistas, no entanto, defendem que uma desintegração da aeronave espalharia pequenos destroços ao longo de vários quilômetros, o que não foi verificado neste caso. Descartando-se então a hipótese de explosão, quais alternativas restariam para explicar este mistério? É o que veremos em nosso próximos episódios desta série, ao longo desta semana.
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